Mrs. Dalloway vai comprar as flores e nós vamos também.
A rotina vai dilacerando os sonhos em minúsculas partes, quase imperceptíveis e mesmo quando sabemos que estamos no caminho certo, aquele despertador que toca todos os dias no mesmo horário incomoda ao ponto de querermos jogá-lo pela janela. Em consequência disso fica a vontade de jogar outros objetos, até pessoas. E cá estou.
Desde semana passada uma redoma sem cor cobriu meus olhos, tudo o que vejo é pálido, desfocado e já não adianta culpar as lentes de contato velha. Por outro lado, as pessoas que amo me deixam confiantes que esse momento nuvenzinha chata vai passar e voltarei a rir de qualquer piada idiota. Mas se eu sei que vai passar, porque continuar assim? Por que eu acredito que o melhor a fazer é permitir-se sentir o que há para sentir a fingir que a coisa não está acontecendo. Está acontecendo. It’s all happening, all the time.
Eu escolhi a edição da Editora Autêntica, com tradução de Tomaz Tadeu
Eu tenho várias edições de Mrs Dalloway e hoje, quando eu passava pela sala para devolver o copo de Coca-Cola à cozinha, vi a edição da editora Autêntica no cantinho do rack, como se me chamasse. Não hesitei, retirei da caixa o livro azul, acariciei-o como se fosse uma jóia rara – que pra mim realmente é – senti o cheiro de livro novo, as folhas delicadas, e li as primeiras linhas, tão famosas, e a sensação foi como se eu estivesse embarcando numa nova experiência, difícil de nomear.
“A Sra. Dalloway disse que ela mesma ia comprar as flores.
Por que a Lucy estava ocupada e Mrs. Dalloway se sentiu tão feliz na rua, sentindo o cheiro da cidade, o movimento de pessoas indo e vindo. E pensou em Peter Walsh que no passado perguntou se ela estava sonhando com… vegetais. Ela respondeu que preferia homens a couves-flores. Ela não se lembrava bem e talvez mantinha a presença dele em seus pensamentos por conta das cartas sem graça que ele enviava da Índia.”
“— como isso era estranho! — , umas poucas frases, como essas sobre couves.”
Umas poucas frases são estranhas, como essas sobre couves. Como as minhas nos dois primeiros parágrafos deste texto. Mrs. Dalloway e as flores. Obrigada Virginia Woolf.
Está aberto o Diário de Leitura Mrs Dalloway. Vamos comprar as flores e muita coisa irá acontecer. Neste diário, você poderá ler vários textos sobre minhas impressões de leitura até o término dessa nova viagem.
Confira todas as publicações do Diário de Leitura Mrs. Dalloway:
- Mrs. Dalloway #1 As flores
- Mrs. Dalloway #2 Que tolos somos
- Mrs. Dalloway #3 Viver é muito perigoso
- Mrs. Dalloway #4 Falando em grego
- Mrs. Dalloway #5 Ainda assim o sol aquecia
- Mrs. Dalloway #6 O tempo
- Mrs. Daloway #7 Eu te amo
- Mrs. Dalloway #8 O beijo, o amor e a vida
Respostas de 10
Um dos seus melhores posts, Francesinha Escritora! ?
Que legal! Que bonito! Já virei fã 🙂
Culpa de Virginia Woolf! 🙂
Amei os 2 primeiros parágrafos!!! Lindo!
<3
Obrigada! 🙂
adorei a ideia de um diário de leitura!
ps. essa nuvenzinha, eu conheço bem! 🙂
Lindo!
Engraçado isso que você escreveu.. Há alguns dias terminei minha primeira releitura de Mrs. Dalloway e senti – ainda sinto – mais ou menos tudo o que você escreveu. Falei sobre isso aqui, ó: http://recalculatingbimbo.wordpress.com/2014/03/14/mrs-dalloway-virginia-woolf/
Mas, Jáder, o que eu estava sentindo foi antes de começar a leitura. Assim que peguei o livro Mrs Dalloway, tudo mudou! 🙂