Se precisasse definir Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles, escolheria arrebatador!
Meu primeiro contato com a escritora paulista foi precedido pela leitura de “A vida do livreiro A. J. Fikry”, de Gabrielle Zevin, o que torna as comparações inevitáveis. A história de A. J. Fikry é uma típica leitura pós-ressaca literária, você acompanha, mas não chega a se envolver emocionalmente com a narrativa, pelo menos isso não aconteceu comigo. O mesmo não pode ser dito do livro nacional, sua intensidade nos suga como um processador (e tritura nossos sentimentos como legumes).
“Ciranda de pedra” é dividido em duas partes: a vida de Virgínia pouco antes e logo depois de seus estudos no colégio interno. Apesar de Virgínia ser a protagonista, suas emoções e motivações são movimentadas por suas duas irmãs e três vizinhos: Otávia e Bruna, Afonso e os irmãos Conrado e Letícia.
Na infância, Virgínia precisou conviver com o enfraquecimento mental cada vez mais acentuado da mãe, o que marcou profundamente a personagem. Ela se sentia diferente das irmãs e não encontrava espaço para si no grupo de amigos, os cinco anões dispostos em círculo no jardim de casa lembravam que ela não fazia parte daquela ciranda.
Anos depois, ao retornar para casa, viu-se cercada de atenções por pessoas antes tão indiferentes, sem perceber, se tornou a fonte no meio da roda. Mais uma vez, achava que aquele não era o seu lugar.
Como é a leitura de Ciranda de Pedra?
A leitura é bem sufocante e perturbadora, os sentimentos de Virgínia são muito confusos, é como acompanhar a vida de alguém que, sem saber, já morreu.
Por fim, retomando as comparações com Gabrielle Zevin, Lygia Fagundes Telles controla o leitor sem manipulações ou pieguice, a força da narrativa é o que nos prende. Ou seja, sua genialidade está em saber o momento exato de concluir o livro, sem se explicar ou decepcionar. Apenas isso: fim.
“-Começa hoje mesmo a vida que te resta.”
(Ciranda de Pedra. pág. 141 da edição digital)
2 Comentários
Oi Caroline, a escrita da Lygia é mesmo encantadora. Este ano li o livro Passaporte para a China escrito por ela, que comprei para ler pro vestibular, e me apaixonei pela sensibilidade dela que como você disse não é algo piegas. Ainda pretendo ler Ciranda de pedra, As meninas, e outros livros da autora. Amo esse blog que é um dos poucos onde se fala sobre tantos autores nacionais maravilhosos de nosso país.
Beijos!
Muito obrigado isso mim ajudo muito no meu trabalho de português, que era sobre a Lygia.