Existem livros para cada momento da vida. Sempre penso nisso quando tento ler Proust e abandono, ainda não é o momento. Mas, vamos falar do livro que intitula a postagem de hoje. Comecei a ler Garoto Zigue-Zague há algum tempo e o abandonei. Na época, o livro não me cativou e não pensei duas vezes para deixar a leitura de lado. Há alguns dias, decidi lhe dar uma segunda chance e me surpreendi, porque é realmente um livro muito bom.

    David Grossman é um autor israelense e pacifista, nascido em Jerusalém. Possui vários livros publicados no Brasil pela Companhia das Letras, entre eles Garoto Zigue-Zague, traduzido do hebraico por George Schlesinger.

    Na obra conhecemos Nono, um garoto incomum, um personagem complexo. Ele vive com o pai, Iacov um investigador de polícia, e com Gabi, secretária e namorada de Iacov. Próximo ao seu aniversário de quatorze anos e bar mitzvah, Nono recebe o típico presente de grego que todo adolescente odiaria: embarca num trem com destino à casa de seu parente mais odiado, o tio Shmuel.

    Nono não chega ao seu destino. Muitas coisas estranhas acontecem no caminho. Personagens suspeitos, sequestros, resgates e muita aventura. Sem mencionar os dilemas pessoais e questões existências típicas da transição da fase juvenil para a adulta. Mas, esta viagem de trem não tem como objetivo o sequestro de Nono, e sim a descoberta de suas origens, seu encontro em si mesmo.

    Grossman possui um inegável talento como contador de histórias. Ganha o leitor jovem e o adulto facilmente. É impossível não se identificar com o protagonista! Além disso, seus personagens são muito bem desenvolvidos, complexos e cheios de idiossincrasias.  A narrativa é um deleite à parte. É toda escrita de modo não linear, extremamente elaborada e ao mesmo tempo divertida, pois o leitor vai descobrindo as pistas que levam ao desfecho da trama.

    Apesar de Garoto Zigue-Zague tematizar a infância e a juventude, não é um livro que deve ser classificado como infanto-juvenil, pois trata das relações humanas. É um romance de formação, recheado de nonsense e uma inspiração clara na obra máxima de Lewis Carrol: Alice´s Adventures in Wonderland. Agrada tanto o leitor jovem quanto o leitor adulto. Indispensável para todos que gostam de uma boa história.

    Eu me calei e apertei a areia entre meus dedos. Estávamos sentados embaixo de um guarda-sol vermelho, quase sozinhos na praia. No alto de um morrinho de areia havia um cachorro preto latindo. Pelo jeito sentiu meu cheiro de longe. O mar estava liso e azul. Eu quase não consegui resistir a entrar na água e mergulhar. Na opinião de Gabi eu era um peixe que por engano veio para o seco. Na verdade, quando estava no mar, no meio das ondas, eu imediatamente relaxava, fechava os olhos, e dizia a mim mesmo coisas que não ousava dizer fora d’água, todos os segredos que eu nunca lembrava fora d’água eu gritava para as ondas e depois esquecia para sempre, mesmo sabendo que eles se espalhavam dentro do mar até o infinito e ficavam guardados nele como uma carta dentro de uma garrafa gigante. (pág.124)


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