Herman Melville foi um escritor americano, nasceu em agosto de 1819 e faleceu em 1891. Escreveu romances, contos, poemas e o famoso Moby Dick. No livro “Bartleby, o escrevente”, publicado em 1853, o autor propõe uma importante e vasta reflexão sobre o quanto é difícil comunicar-se com outro.

    A editora Autêntica lançou em 2015 uma edição bilíngue da obra, com tradução de Tomaz Tadeu e belas ilustrações do espanhol Javier Zabala. É esta a edição que li e que também me surpreendeu não somente pela beleza do livro, mas o conteúdo, o texto em si, o Bartleby, o narrador e advogado da história que, sem compreender o que lhe aconteceu, conta para o leitor sobre o curioso, diferente e estranho funcionário que ele teve: Bartleby, o escrevente.

    Imagine você, um advogado que precisa contratar mais um funcionário, em um escritório localizada em Wall Street, no século XIX. O que se espera é que esse funcionário trabalhe de acordo com a função a qual foi designado, que cumpra as suas tarefas diárias e que seja solícito com os colegas de profissão. Mas Bartleby é muito diferente disso tudo, o que deixa o advogado e os seus outros funcionários atônitos.

    O que faz, então, o conto prender a atenção do leitor é a falta de compreensão sobre o tão misterioso personagem Bartleby. O seu patrão, totalmente desarmado com as atitudes e respostas de Bartleby, sobre a sua improdutividade no trabalho, pede ajuda aos próprios funcionários, mas que também se sentem inúteis perante a inusitada situação.

    “O que vi naquela manhã me convenceu de que o escrevente era vítima de um distúrbio inato e incurável. Podia dar esmolas ao seu corpo; mas o que lhe doía não era o corpo; era a alma que sofria, e sua alma eu não conseguia atingir.” (p. 75)

    Bartleby é um mendigo? Um louco? Um solitário? Lunático? Sábio? Confuso? Todas essas perguntas permeiam o conto, os outros personagens e o próprio leitor, pois, a princípio conhecemos algumas importantes características de cada personagem, mas apenas Bartleby permanece misterioso. Assim, os outros funcionários do escritório de advocacia, Turkey, Nippers e Ginger são pessoas “normais”, com defeitos e qualidade, mas quem é Bartleby? Ninguém sabe.

    Quando uma pessoa nova é apresentada a um novo espaço social, seja de trabalho ou não, espera-se conhece-la a partir daquele momento, são raras as situações em que temos a oportunidade de conhecer também o passado de uma pessoa. Quem é que gosta de contar a própria história se é uma lembrança ruim ou confusa?

    Em Bartleby, o escrevente, vamos visitar o passado do curioso personagem, de um jeito tão inusitado quanto a vida presente dele. Se por um lado, teremos algumas respostas, por outro, vamos permanecer sem chão. Assim se constrói um grande conto.


    Assista ao vídeo no canal Livro&Café:

    Onde comprar Bartleby, o escrevente (Herman Melville): Amazon

    Imagem de destaque: Carlson Ellis, New Yorker

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