Os trabalhos de Mary Cassatt costumam retratar a vida privada e social de mulheres, com ênfase nos momentos íntimos de mães e seus filhos.
Já falei um pouquinho aqui na revista sobre um app chamado Muzei que traz pinturas para a tela do seu celular. A cada dia, uma nova obra aparece como papel de parede e, recentemente, uma delas me chamou a atenção: “Alimentando os patos”, de Mary Cassatt.
Quem foi Mary Cassatt?
Mary Stevenson Cassatt nasceu em Allegheny, Pensilvânia, em 22 de maio de 1843 e faleceu em Le Mesnil-Théribus, em 14 de junho de 1926, aos 83 anos. É considerada uma grande pintora impressionista. Nascida na Pensilvânia, Mary passou boa parte da vida adulta na França, tendo sido grande amiga de Edgar Degas e exposto seus trabalhos junto a outros grandes nomes da pintura impressionista.
Seus trabalhos costumam retratar a vida privada e social de mulheres, com ênfase nos momentos íntimos de mães e seus filhos. Foi descrita por Gustave Geffroy, em 1894, como uma das “les trois grandes dames” (três grandes damas) do impressionismo, junto de Marie Bracquemond e Berthe Morisot.
Uma vida dedicada à arte e ao feminismo
Proveniente de uma família de classe média alta, Mary enfrentou seu pai para poder se dedicar à arte, e aos 15 anos se matriculou na Pennsylvania Academy of the Fine Arts, na Filadélfia, para se tornar uma pintora profissional, numa época em que apenas aproximadamente 20% de todos os estudantes de artes eram mulheres. Impaciente com a lentidão de suas aulas e com o paternalismo de seus colegas e professores homens, Mary decidiu estudar os Antigos Mestres por conta própria. Porém, as dificuldades não diminuíram. Mary, sem o apoio familiar, se viu com dificuldades para se manter por meio da sua arte e, mesmo quando começou a ter algum sucesso profissional tempos depois, já morando na França, se deparou com a política machista e o conservadorismo do meio artístico. E ela, com sua visão ácida e crítica, não poupava ninguém ao falar sobre o preconceito com as mulheres artistas, cujos trabalhos eram dispensados, a menos que elas tivessem um amigo ou patrocinador no júri dos eventos.
Sendo uma feminista desde a tenra idade, embora que de maneira sutil e privada, tendo rejeitado o estereótipo de “artista mulher”, Mary apoiou o sufrágio. Em 1915, ela expôs dezoito trabalhos em apoio ao movimento de Louisine Havemeyer, uma dedicada feminista. A exibição lhe trouxe um conflito com sua cunhada, Eugenie Carter Cassatt, uma anti-feminista e anti-sufrágio, que boicotou seus trabalhos, junto da sociedade da Filadélfia. Mary respondeu ao boicote vendendo as obras que antes estavam destinadas a seus herdeiros, em especial The Boating Party, que acredita-se tenha sido inspirado no nascimento da filha de Eugenie, Ellen Mary. Ele foi vendido para a Galeria Nacional de Arte, em Washington DC.
Assim, Mary Cassatt, ao lado de outras artistas que despontaram no século XIX, era a personificação da “nova mulher”, que, negando o casamento, conseguira ser bem sucedida e conhecida pela excelência de seus trabalhos. E boa parte dessa visão foi influenciada pela própria mãe de Mary, Katherine Cassatt, que acreditava que mulheres com educação formal deveriam ter reconhecimento nas atividades sociais.
A artista sofreu no final da vida com reumatismo, neuralgia, diabetes e catarata e faleceu quase cega. Desde sua morte, em 1926, suas obras foram impressas em selos postais dos Estados Unidos e foram vendidas por até US$ 2,9 milhões em leilões.