Júlia Lopes de Almeida publicou o romance “A intrusa” em 1908 e, como uma características de suas obras, vamos encontrar a sociedade carioca em seus problemas pessoais e sociais.

    No livro, narrado em terceira pessoa, o leitor conhecerá Argemiro, um homem viúvo que jurou no leito de morte de sua esposa que não casaria novamente. Sua filha Glória, uma criança descobrindo as belezas do mundo, é criada pela avó materna, uma baronesa que vive no campo. Glória vê o pai poucas vezes, quando vai até a sua casa na capital do Rio de Janeiro.

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    A princípio, sabemos da preocupação do pai em relação à educação de sua filha, que para ele não está adequada, pois ele teme que sua filha não cresça de acordo com os padrões sociais da época. Em um segundo momento, também é mostrado que ele sente saudades da criança, o que torna o motivo principal da contratação de uma governanta para a sua casa, que também exercerá o papel de educar sua filha.

    Ao longo da narrativa, será possível perceber que Argemiro não está feliz vivendo sozinho. Essa solidão é perceptível em sua relação com a própria casa, pois a considera desorganiza, bagunçada, suja, sem vida – assim como ele próprio se encontra.

    Questões familiares

    A sogra de Argemiro, mãe de sua esposa morta, lembra-o constantemente do juramento que ele fez e, ao descobrir a entrada de uma governanta na casa, teme que Argemiro deixe de cumprir o juramento e, assim, desrespeite a lembrança de sua filha. Entretanto, Argemiro faz um contrato inusitado com a governanta, chamada por sua sogra de “a intrusa”: ela viverá na casa, mas não será vista por Argemiro. E, como Alice, a governanta contratada precisa muito do trabalho, aceita a condição de ser invisível dentro da mansão.

    O melhor amigo de Argemiro é um padre. Os dois passaram a infância juntos e mantêm uma relação de amizade muito próxima. Para o padre Assunção, o amor entre ele e Alice já fica evidente por seu amigo fazer grandes elogios sobre a mudança dos ares de sua casa com a chegada da governanta: tudo está bonito, organizado, limpo, mais iluminado e, principalmente, sua filha Glória está com um comportamento mais tranquilo ao mesmo tempo que demonstra mais interesse pelos estudos.

    E se não bastasse o juramento de Argemiro, para sua sogra, tudo é motivo de ciúmes, pois, para ela, a governanta é uma intrusa, manipuladora, vulgar e não adequada para cuidar de sua neta. Porém, fica nas entrelinhas dos diálogos da baronesa que ela é apenas uma mulher que não consegue se distanciar de sua filha que morreu e, a mudança na rotina de Argemiro e sua casa, para ela, é como se fosse mais uma forma de matar a sua filha.

    A Intrusa é um romance clássico, com ótimos diálogos e pequenas surpresas

    Diferente da tragédia em “A viúva Simões”, o livro A Intrusa caminha para um fim romântico sem grandes surpresas. No entanto, os diálogos, que traçam perfis sociais muito condizentes com a época, introduzem o leitor de maneira ímpar ao universo político-social do Brasil oitocentista.

    É possível observar as preocupações dos personagens em relação aos seus papeis e imagens sociais. Bem como, o contraponto entre o casamento por conveniência social e dinheiro versus o casamento por encantamento, admiração e amor.

    Por fim, a pequena surpresa está na motivação dos personagens, pois Júlia Lopes de Almeida carrega a sua obra com muita perspicácia, o que deixa o leitor satisfeito com o final ao entender que, muito além de uma história de amor, a autora traduziu muito bem as relações familiares e sociais de um Brasil patriarcal, católico e pós-abolição.


    Gostou de A Intrusa? Leia também a resenha do livro “A viúva Simões”

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