Poética é uma compilação de textos e poemas de Ana Cristina Cesar reunidos pela Companhia das Letras. Com apresentação de Armando Freitas Filho, amigo da poetisa e posfácio de Viviana Bosi, as palavras de Ana C. voltam à tona depois de anos fora de catálogo nessa nova edição.

    Ana foi um dos grandes nomes da Poesia Marginal. Dona de uma escrita densa, desordenada, fragmentada e psicológica, não media esforços para se expressar. É como se quisesse destrinchar partes de um quebra-cabeça para compreender sua totalidade. Nasceu em 1952 e suicidou-se em 1983, pulando da janela de seu apartamento no oitavo andar.

    O escritor Caio Fernando Abreu era amigo de Ana, e ela deixou algumas cartas sob seus cuidados antes do suicídio. “Morangos Mofados” de Caio e “A teus pés” de Ana foram publicados em 1982, e ambos participam de um período marcado pela solidão e pelo sofrimento provocado pela marginalização.

    Poética compreende os seguintes livros de Ana Cristina : Cenas de Abril, Correspondência Completa, Luvas de Pelica, A Teus Pés: prosa/poesia, Inéditos e dispersos: poesia/prosa,Antigos e Soltos: poemas e prosas da pasta rosa, Visita à Oficina. Além disso, o exemplar da Companhia traz imagens de cartas, redações, desenhos e textos escritor por Ana C. A minha edição também veio com um fac-símile de Correspondência Completa. Um verdadeiro presente aos fãs.

    Eu estudei Letras e nunca escutei o nome de Ana C. pela boca dos meus professores de Literatura. Isso é um sacrilégio! Ana é uma escritora que merece ser conhecida e lida Brasil afora.

    Abaixo, dois poemas para despertar em vocês a vontade de ler Ana Cristina César:

    poema óbvio

    Não sou idêntica a mim mesmo
    sou e não sou ao mesmo tempo, no mesmo lugar e sob o mesmo
    [ponto de vista

    Não sou divina, não tenho causa
    Não tenho razão de ser nem finalidade própria:
    Sou a própria lógica circundante

    Junho/69 p.172

    quartetos

    Desdenho os teus passos
    Retórica triste:
    Sorrio e na alma
    De te nada existe

    Eu morro e remorro
    Na vida que passa
    Eu ouço teus passos
    Compasso infernal

    Nasci para a vida
    De morte vivi
    Mas tudo se acaba
    Silêncio. Morri.

    1967 – p. 142

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    Leia também: Poética (Ana Cristina Cesar), como é difícil e bom

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    4 Comentários

    1. E eu que não sou muito fã de poesias (rimas me incomodam muito! rs), tenho que confessar que adorei essas 2 poesias que você colocou na resenha. Gosto da poesia assim, quando diz muito, em pouco espaço e longe das rimas óbvias. 🙂

    2. Eu também não sou fã de poesia, são poucos poetas que me cativam. Eu acho que você vai gostar muito da Ana C., ela tinha muito a dizer, pena que viveu pouco para isso.

    3. Aléxia Roche on

      Leia! Você vai amar! Também não sou entusiasta da poesia, mas a Ana C. tinha muito a dizer, pena que viveu pouco para isso.

    4. Nádia Camuça on

      Gente, mas poesia moderna ta ai pra isso, rs. Ou até Walt whitman, que não é moderno, mas faz versos livros. Nem tudo que é poesia tem que rimar 🙂

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