Divergente (Editora Rocco) é um livro muito interessante, mesmo entre os clichês inevitáveis das distopias YA da atualidade, a obra de Veronica Roth consegue ganhar um pouco de espaço.

    Passei bons momentos lendo, é um tipo de trama que prende a atenção, contagia. Tris, a protagonista não é fraca, medrosa e cheia de aflições adolescentes, pelo contrário, é corajosa, destemida, humana, tem bom senso e não cai no ridículo. É uma divergente, apresenta um tipo raro de personalidade: mostra aptidão para mais de uma facção, enquanto a maioria da população se enquadra em apenas uma. Gostei dela porque ela é o tipo de personagem que não se faz de vítima, o que é difícil de encontrar em livros do gênero.

    Divergente (Veronica Roth): prende a atenção e contagia

    Uma das coisas que mais gostei durante a leitura, foi a ideia de opressão da sociedade que Roth utilizou.

    “Há décadas, nossos antepassados perceberam que a culpa por um mundo em guerra não poderia ser atribuída à ideologia política, à crença religiosa, à raça ou ao nacionalismo. Eles concluíram, no entanto, que a culpa estava na personalidade humana, na inclinação humana para o mal, seja qual for a sua forma. Dividiram-se em facções que procuravam erradicar essas qualidades que acreditavam ser responsáveis pela desordem no mundo.”

    Pág. 48

    “Os que culpavam a agressividade formaram a Amizade. Os que culpavam a ignorância se tornaram a Erudição. Os que culpavam a duplicidade fundaram a Franqueza. Os que culpavam o egoísmo formaram a Abnegação. E os que culpavam a covardia formaram a Audácia.”

    Pág. 48-49

    Percebam o diferencial dessa distopia: uma sociedade cujos valores se baseiam na diferença e semelhança entre a personalidade humana. Grupos foram divididos com base nessas semelhanças e diferenças, pois acreditavam que esses fatores resultavam na desordem. Gostei, gostei bastante! E reparem nos nomes das facções: são antônimos de motivações de guerras!

    Personagens diferenciados, apesar dos clichês

    Os personagens também são diferenciados, apesar dos clichês básicos, como a presença típica do mocinho (que arrebata o coração da mocinha) e do vilão (que quer matar a mocinha). É gratificante, para o leitor, o fato de Veronica ser uma escritora iniciante e conseguir expressar essas múltiplas personalidades tão bem nos personagens. Os personagens da Audácia, mesmo pertencendo à mesma facção, não possuem a mesma personalidade, um é mais arrogante, outro presunçoso, outro corajoso e outros que diante de tanta demonstração de coragem se mostram covardes. Cada um é único e repleto de facetas, acredito que no fundo, todos são divergentes.

    A narrativa é simples e rápida, repleta de ações, conspirações e tem uma pitada de romance. Apesar disso, é um pouco fragmentada. Percebe-se que Veronica Roth é uma escritora iniciante, que ainda está aprendendo a utilizar estilística e recursos narrativos, mas, isso não é empecilho. A tradução é boa e o livro foi bem revisado, então a leitura flui tranquilamente. O final é instigante e deixa curiosidade de sobra para o próximo livro da trilogia: Insurgente.

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