No livro “Nadando de Volta Pra Casa” Deborah Levy prende o leitor por meio da dúvida e do mistério.

    Todo livro é feito das escolhas do escritor. Que pode iniciar a história descrevendo um lugar, uma estrada, uma casa, um quarto, um jardim, qualquer coisa. E também há os personagens que se transformam em heróis, vilões, mocinhos, mocinhas, bandidos, cafetinas e outros tipos menos clichês. E no meio da história, acredito que as escolhas continuam. Talvez o escritor tenha uma base sólida para a história, porém não devemos nos esquecer que todo o conjunto pode sim acontecer através da pura criatividade, a inspiração quando o escritor termina o ponto e precisa começar outra sentença. É como construir horizontes, que é tão importante, mesmo parecendo inatingível. Alguns personagens são como esses horizontes e cabe ao escritor decidir, a todo momento, se ele deseja atingir certos pontos lá na frente ou não. É aquele personagem secundário, que parece tão incrível, mas que no final da história o leitor sabe pouco dele, porque o escritor escolheu outro horizonte, simples assim.

    No livro “Nadando de Volta Pra Casa” (Deborah Levy) eu fiquei muito curiosa em conhecer uma personagem que não era o protagonista, porém, a escritora não me levou até as suas profundezas, pois ela escolheu um outro horizonte para focar.

    O nome dessa personagem que elegi como a minha preferida do livro chama-se Isabel, ela é esposa de um homem que motiva Kitty Flinch, a protagonista, a agir. Ela é uma garota deprimida, que deseja apresentar um de seus poemas para Joe Jacobs, um famoso poeta inglês, marido de Isabel, uma mulher muito interessante, mesmo aparecendo pouco na história, mesmo que o leitor não saiba muito sobre a vida dela.

    O início e o meio

    A primeira parte da história é uma cena fora da ordem cronológica. A partir da segunda parte, é a ordem cronológica que domina. E o que prende o leitor é justamente a dúvida, o mistério, que a primeira parte da história provoca.

    Kitty Flinch, uma garota que aparece nadando nua numa casa em que a família de Joe Jacobs está hospedada, se torna a protagonista da própria família quando Laura decide acolher a garota que, rapidamente, todos reconhecem como louca, pois além da nudez sem timidez, ela acredita que possui uma conexão profunda com Joe Jacobs, o que o deixa em alerta, assustado e vulnerável.

    Mas por que eu gostei tanto de Isabel? Por que conhece-la “de longe” me confortou, enquanto Kitty e Joe são verdadeiras avalanches sentimentais, que tocam nas profundezas secretas da natureza humana, ela permanece serena, como uma grande dama de um romance clássico inglês. Não que isso seja melhor, pois acredito que devemos sim mergulhar em nossas próprias profundidades, mas também é muito gostoso ver – assistir – uma mulher transmitindo um tipo de silêncio que conforta.

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