Um livro que se chama “F”, escrito por Antônio Xerxenesky, brasileiro, jovem, que publicou o seu primeiro livro em 2008, chamado “Areia nos dentes”, depois teve “A página assombrada por fantasmas” em 2011, textos publicados em jornais importantes (nacionais e internacionais) e o reconhecimento em 2012 pela revista Granta, como um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros.

    No livro F, lançado neste ano pela editora Rocco, Xerxenesky criou um romance policial diferente, em que não é importante descobrir quem matou quem, mas sim como é que o matador suporta, como ele aguenta aquela vida.

    Antônio Xerxenesky
    O autor Antônio Xerxenesky

    O matador na história é uma garota, Ana, que ainda adolescente viaja para a casa de um tio nos EUA e aprender todos os truques sobre matar. Tudo porque ele, um guerrilheiro que lutou contra a ditadura no Brasil, fica impressionado com as habilidades de Ana e a encaminha para um campo de treinamento de guerrilheiros, em Cuba.

    A narrativa é escrita pela própria personagem que intercala os diversos ambientes de sua vida: a adolescência no Brasil, a vida de matadora profissional nos EUA e um trabalho especial iniciado em Paris.

    A fama de Ana em sua profissão é muito grande, pois ela pode escolher os serviços que realmente valem à pena. A preferência dela é por mortes que precisam parecer naturais e assim, ela aceita o serviço de matar um famoso cineasta, Orson Welles, que existiu de verdade e ficou muito famoso com o filme Cidadão Kane, lançado em 1941.

    E tudo o que parecia ser apenas mais um trabalho, ganha grandes dimensões na vida de Ana, pois ela acaba se apaixonando pelo próprio cinema e, consequentemente, a faz repensar sobre a necessidade da morte de Orson Welles.

    Além dessa conexão com o cinema, o livro é todo anos 80, fala de bandas de rock, sintetizadores e também computadores, como algo tão futurista e distante da realidade.

    O que mais gostei no livro, além de reconhecer o brilhantismo de Xerxenesky em apresentar uma personagem feminina, em primeira pessoa, tão interessante, humana – mesmo com uma profissão que prova o contrário – e forte, é o formato da própria história, pois é uma narrativa acelerada, com frases curtas, precisas, enxutas, que casam muito bem com a personagem-narradora. Essa “aceleração” textual me fez lembrar Jack Kerouac.

    Há uma outra questão tratada no livro de uma forma muito honesta e profunda, apesar da quase nula atitude de Ana. Um caso que é colocado para o leitor em pequenas doses, que contribuem muito para acreditarmos na humanidade de uma assassina profissional, que parece apenas querer fugir para sempre.

    O título “F” faz relação com o filme F for Fake, de Orson Welles. No Brasil a tradução ficou como “Verdades e Mentiras”. Ana, a personagem, gosta muito desse filme e procura encontrar um tipo de arte em seus assassinatos. Matar Welles, para ela, precisa ser uma grande obra de arte, assim como o próprio Welles fez com Cidadão Kane. Seus próprios estudos sobre cinema a coloca numa posição de crítica, ao ponto de usar uma célebre frase: “Bonito, mas é arte?”.

    Com isso, Antonio Xerxenesky parece se livrar da opinião do leitor sobre o seu livro, como se a interpretação de sua obra, mesmo arte, mesmo apenas bonito, funcionasse como o grande desfecho da própria obra. É bonito? É arte? É verdade? É mentira? É Fake?

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