Virginia Woolf não tinha filhos, mas se dedicou aos filhos de sua única irmã Vanessa Bell, artista plástica. O filho mais velho (que se chamava Julian Bell em homenagem ao irmão de Virginia – Julian Thoby Stephen, que morreu de febre tifoide) morava em um espaço especial em seu coração.

    Quando jovem, Julian decidiu ser poeta e sua tia Virginia, feliz com a notícia porém muito realista, escreveu uma carta para ele que dizia assim:

    “Thursday.
    My dear Julian.
    I like the poem very much. It still wants CURRENCY I think.
    When did you write it?
    It shall be the cornerstone of my new library at Rodmell. But this is to say—please be here 7:30 sharp tomorrow (Friday) as we want you to drive Rachel & us to a restaurant.”

    A carta provavelmente foi escrita em novembro de 1929. Woolf se refere em seu diário em 30 de novembro para um jantar no Red Lion com “Julian & Rachel.”

    O poema em questão é provavelmente “Chaffinches”, que chegou a ser publicado na época. E Rodmell é nome da cidade em que ela morava, nas proximidades de Londres, na famosa Monk’s House.

    A crítica contundente de Woolf sobre o poema de Julian, que poderia ser mera experiência juvenil, tem um certo louvor, mas também há uma mudança brusca, com o foco para uma tarefa cotidiana, que marca a relação tia e sobrinho, muito mais que uma escritora analisando um poema de um escritor.

    “Ele não é um poeta”

    No ano seguinte, após o primeiro livro de poemas de Julian publicado, Virginia declarou: “Ele não é um poeta.” Certa vez, ela descreveu sua relação com ele como sendo uma mistura de irmã e mãe. E embora a crítica negativa aos poemas do sobrinho, um livro dele chegou a ser publicado pela Hogarth Press, a editora de Virginia e Leonard Woolf.

    Mas a carreira de Julian teve uma curta duração, assim como o seu parente Thoby, que não chegou a comemorar o seu trigésimo aniversário, pois em seus vinte e tantos anos, ele assumiu a causa republicana na Guerra Civil Espanhola, alistando-se como motorista de ambulância e foi morto na Batalha de Brunete, em 1937, o que causou uma profunda tristeza em Virginia Woolf, Vanessa Bell e todos da família.

    O poema dele que Virginia Woolf leu eu não encontrei on-line, mas abaixo tem um muito bonito e você pode ler mais aqui:

    Kiss before we sleep
    A thousand times again,
    And love close-guarded keep:
    Though this night we wake
    With the grey sun’s light,
    Returning dawns will break
    While we in our long night,
    Past pleasure or pain,
    Nor turn nor kiss again.

    Bell, Julian. Work from the Winter and Other Poems. London: Hogarth Press, 1936: 42.

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