Os livros escreveram a história da nossa vida e, à medida que se acumularam nas estantes (e no parapeito das janelas, e debaixo do sofá, e em cima da geladeira), tornaram-se capítulos dela. Como poderia ser diferente?

    {Anne Fadiman, em ‘Ex-libris’}

    De fato, quando olho para meus livros me vem à mente a ideia da penseira de Alvo Dumbledore. Em cada livro guardado está registrado um pouco da minha vida. As sensações, as marcas, as frases que destaquei, tudo isso compõe a minha história.

    Cada vez que eu reler “O retrato de Dorian Gray”, por exemplo, vou lembrar como era ser um adolescente, a aventurar-se na prateleira dos livros para adultos. “Drácula” vai sempre evocar as tardes e noites de inverno em que eu o devorei, no sofá da casa dos meus pais. “O anjo e o resto de nós” vai me lembrar de um blog, uma bibliotecária, um acidente de ônibus e uma noite fria. Sim, é assim. Cada leitura marca uma época, cada releitura acrescenta novas marcas à nossa história pessoal com os livros.

    Mas não é sobre esses livros-penseiras que eu quero escrever. Desses eu não me desfaço de modo algum. Eu quero é tratar daqueles outros: do best seller que decidimos comprar por curiosidade e do qual não gostamos. Daquela obra que ganhamos de alguém que imaginou gostaríamos de histórias sobre discos voadores. Daqueles contos de um autor aclamado pela crítica, mas dos quais, sinceramente, não entendemos bulhufas. Sejamos sinceros, esses livros guardam alguma memória interessante? Não. Há alguma possibilidade querermos reler essas obras? Com tantos livros bons por aí, absolutamente não. Então o que estamos esperando para nos desapegarmos deles?

    Aprendi isso esse ano. Acredite, eu era tão apegado aos meus que jamais imaginei poder me desfazer com tanta tranquilidade de um livro. Mas eu posso. E você também. O sonho de muitos de nós é ter uma biblioteca. Mas sinceramente, devemos primar pela qualidade, não pela quantidade.

    Além disso, ultimamente há livros tão baratos (salve Amazon!) que você nem sequer paga pelas páginas, você paga pela leitura. Tenho adotado esse pensamento e ele facilita muito ao deixar que certas obras sigam seu destino. Paguei pela leitura e já li. Ótimo. O livro em si agora segue seu rumo, vai para alguém que se importe realmente com ele.

    Confesso que só passo adiante os livros que não me servem, que não mexeram comigo, que não funcionaram em mim. Livros que eu achei ruins, pronto, confesso. Mas são livros que algum amigo pode considerar incríveis.

    Bibliotecas são sempre uma boa opção para se doar uma obra. Apesar disso, estudei tanto a importância de possuir livros que considero imprescindível agraciar alguns conhecidos com essas obras. Ultimamente, minha estratégia tem sido fotografar os livros e anunciá-los no Facebook. Quem se manifestar leva, simples assim.

    Funciona. E funciona de um jeito incrível. Tenho uma amiga que sempre fala sobre a reciprocidade do universo. Não sei se acredito ou não, mas o tal universo provou não se importar muito com minha (des)crença. Da última vez, na mesma semana em que doei 12 obras ganhei 15. Isso mesmo, 15 livros absolutamente novos e interessantíssimos. Uma amiga os recebera e não os quisera, então ela lembrou-se de mim. Reciprocidade, coincidência, feng-shui (livrar-se do velho para permitir que o novo chegue)… não sei. Sei que continuo doando meus livros e que você deveria fazer o mesmo.

    A propósito, Universo, caso você leia essa coluna, dessa vez foram 31 livros doados. Se você quiser fazer a reposição, agradeço desde já.

    Imagem: ZoomWalls

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