“A Ennet fede a tempo passando. É a umidade dos primeiros dias de sobriedade, que fica ali parada no ar, palpável” (p. 288)

    Você lê 300 páginas e ainda faltam mais de 700. Por mais que seja interessante pensar que não é importante o número de páginas, que é preciso curtir a leitura & etc, acontece a pressão de terminar logo o livro. Não porque a leitura está ruim, mas porque é preciso concluir um objetivo. Ansiedade, esta é a palavra.

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    29/03/2015

    Depois de uma semana sem ler Graça Infinita e de ter feito a anotação acima, passou quase 2 meses. É, fiquei 2 meses sem ler o calhamaço mais amado do Brasil, mas li outros livros que foram interessantíssimos.

    A decisão de voltar com o Diário e, consequentemente, com a leitura, aconteceu gradualmente. Há mais ou menos uma semana atrás senti uma certa falta do livrão, dos personagens e da escrita caótica de David Foster Wallace. Abaixo estão as anotações que fiz após 3 dias de uma suave leitura que me fez pular da página 247 para a 331, mas confesso que ainda tive de retornar para a página 200 e pouco, para relembrar onde é que eu havia parado.

    A morte

    Há um fato que evitei contar até agora, mas será preciso porque é a partir dele que MUITAS coisas acontecem no livro. Não chega a ser um spoiler, pois é uma informação que está na própria sinopse do livro. Estou falando da morte do Sr. Incandenza. Mas saber da morte dele não basta, porque talvez o livro não seja sobre como a vida dele acabou, mas sim como a família dele (filhos e esposa) passaram a lidar com a novidade de viver sem ele. Ainda mais ele sendo um cara importante para a sociedade, para o mundo futurista que Wallace criou.

    Numa das melhores partes da história (pags. 249 a 266) Hall conversa com o seu irmão Orin sobre a morte repentina do pai e de como ele conseguiu “burlar” o psicólogo para acreditar que ele, de alguma forma, sentia como todas as pessoas se sentem quando um parente querido se mata. E, utilizando a psicologia barata de livros de autoajuda, o filho do Dr. Incandenza consegue passar ileso pela constrangedora situação de ter que falar sobre um momento tão delicado de sua vida sem querer realmente falar sobre o assunto.

    Mas é nesta conversa com o irmão que o personagem mais se revela – não se revela para o psicólogo, mas se revela para o leitor –, pois ao escancarar a verdade sobre a primeira coisa que passou na cabeça dele quando a morte do pai aconteceu, mostra ao mesmo tempo coragem, sinceridade e estranheza.

    Mas e a Graça?

    É na página 321 que percebo a palavra Graça. É sobre uma personagem suicida e viciada em Valium, que não havia aparecido até então (ou eu não me lembro):

    “(…) e que segundo relatos históricos viu os súbitos faróis iminentes na sua pista rumo norte como manifestação da Graça e fechou os olhos e meteu-lhe o pé na tábua para cima deles, dos faróis, sem jamais esterçar, espirrando vidro e prata micronizada pelas quatro pistas da estrada, essa civil desprevenida, que “ESTILHAÇOU A ILUSÃO”, “ROMPEU A BARREIRA”, (manchetes da mídia) e trouxe à tona o primeiro indício tangível de uma má vontade anti-ONAN bem pior que qualquer coisa causada pelo bom e velho separatismo das antigas lá no Quebec”. (p. 321)

    Sobre o título

    Em inglês, o título original é Infinite Jest, que aqui em terras brasileiras ficou como Graça Infinita. Lá em Portugal o título escolhido foi A Piada Infinita.

    Aqui no Brasil há uma possibilidade de trocadilho. A palavra Graça é muito relacionada ao divino. “Fulano teve uma graça alcançada”. E quando o riso é garantido, dizemos que a situação/piada foi muito engraçada. Gosto dessas possibilidades de interpretação logo no título. Em Portugal é Piada Infinita, que tira a relação com o divino, por outro lado, ao conhecer um pouco sobre o livro de David Foster Wallace, fica evidente que um riso sem fim é algo dúbio, pois existe sempre o lado de quem ri e o lado de quem chora.

    331 páginas de 1.141 páginas existentes. Agora vai!


    Graça Infinita (David Foster Wallace)
    Companhia das Letras, tradução de Caetano W. Galindo
    Literatura Americana, 1141 páginas, 2014.
    Título original: Infinite Jest

    Onde comprar: Amazon (e-book)

    O início: #1 Introdução: Diário de Leitura – Graça Infinita (David Foster Wallace)

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