“Fazia muitos anos que não precisava não viver o momento presente. Mas agora isso era imprescindível, porque o momento não me trazia nada que valesse a pena. Por outro lado, o futuro, a passagem do tempo, tinha a chave de tudo e devolveria meu próprio eu sem dor” (p. 45)

Albert Espinosa é um escritor espanhol e “Se você me chamar eu largo tudo… mas por favor me chame” o segundo livro dele, que vendeu mais de um milhão de cópias na Espanha e permaneceu durante meses nas listas dos livros mais vendidos no país. Minha curiosidade pela leitura foi única e exclusivamente o título do livro que, descobri depois, faz parte de uma música espanhola e que, de uma maneira sutil, está inserida no livro.

 photo se-vc-me-chamar_zpsfapkmsag.jpgDani é o nome do personagem principal da história, é ele que conta para o leitor o que aconteceu em sua vida depois que a sua mulher foi embora de casa. Em pequenos capítulos que vão e voltam na vida de Dani – sua infância e seus medos e depois a sua profissão e o seu sofrimento – vão prendendo a atenção do leitor em pequenas doses e revelações, como um pedido de “calma, eu vou conseguir te contar tudo”. Se isto foi uma artimanha do escritor, não sei dizer, mas que pode mostrar uma inexperiência em questões de técnicas literárias, pois tudo é bastante simples: uma mistura de narrador em primeira pessoa com ele próprio avisando o leitor que é preciso ter paciência, que ele já irá conseguir contar a sua história e que, sim, vale a pena você ler até o fim, pois é realmente incrível e…

Mas a história não tem nada que vá deixar o leitor incrédulo. É um cara que no dia em que sua mulher vai embora, ele decide fazer um balanço de sua vida, porém ele tem que trabalhar e o seu trabalho colabora com o difícil momento de relembrar o passado, para compreender e saber lidar com o presente dolorido e o futuro incerto.

Os capítulos são amarrados com suavidade. Em cada informação suspensa que o leitor recebe, no próximo capítulo haverá uma conexão, mesmo que seja por algo místico. Se o motivo do rompimento do narrador com sua esposa é tão vago no início, aos poucos vai ganhando forma, na mesma proporção que o passado de Dani é mostrado, juntamente com o novo trabalho que ele pegou para fazer, que é de encontrar uma criança que está desaparecida.

Dos pontos fortes, destaco o lindo título, a infância incomum e a vida adulta de Dani. Dos pontos fraco, fica o formato como a história é contada – um texto simples e algumas frases truncadas (que poder ser por conta da tradução) e algumas fórmulas, mesmo que discretamente colocadas, sobre como se deve viver, como um manual de autoajuda.


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1 comentário

  1. Albert Espinosa é um dos meus mais recentes vícios. Acho que muito do que mais atrai seus leitores tem a ver com sua história de vida: ele passou 10 anos em hospitais entre a adolescência e início da vida adulta, por causa de câncer, perdeu uma perna, um pulmão e parte do fígado, e viu vários amigos morrerem. Isso traz uma perspectiva um pouco diferente à leitura e provavelmente explica um pouco a tendência à auto ajuda.
    Pessoalmente, vejo Espinosa mais como um roteirista que escreve livros de vez em quando do que o contrário. E, se me permite, recomendo, caso alguém leia este comentário, assista a série dele Polseres Vermelles/ Pulseras Rojas (tem pela web com legendas em português ou inglês). Mas assista ao original catalão, não o remake americano. O roteiro é uma obra-prima (inclusive tecnicamente). É incrível uma pessoa que passou por tudo que ele passou escrever algo que divirta e inspire tanto, além de emocionar…

    Enfim, este livro dele está na minha lista, mas pela resenha não vou criando grandes expectativas. Já achei O Mundo Amarelo razoável em determinados aspectos… De qualquer forma, continuo fascinado pela história deste escritor e vou destrinchar toda a sua obra (que for acessível, porque é bem difícil encontrar alguns de seus filmes e séries).

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