Cheguei um pouco atrasada ao mundo de Orange Is The New Black, uma série da Netflix que começou em 2013. O meu desejo por assistir a série veio de uma entrevista em que Rafael Cortez (CQC) fez perguntas estúpidas e machistas para duas atrizes da série e também quando a JoutJout foi para Nova York conferir a premier da terceira temporada.

    Depois desses dois vídeos – tão diferentes um do outro – o que fiz também foi descobrir amigos que estavam acompanhando a série. Ouvi comentários como: “ah, é uma série sobre lésbicas”; “assista, é muito bom”; “só que tem muitas mulheres se pegando”; “é meio fake, mas é legal”; “a primeira temporada é a melhor, depois é só pegação”; etc, etc, etc.

    E então eu fui tirar minhas próprias conclusões e descobri que a série não é sobre “lésbicas e mulheres se pegando”, a série é sobre como sobreviver numa cadeia, como lidar com as diferenças, como agir num espaço tão limitado e com regras tão diferentes das habituais…

    Por um lado fiquei muito feliz por tudo o que a série me proporcionou, por outro fiquei triste com quem ainda não entendeu nada sobre Orange Is The New Black… não quero dizer que eu entendi tudo, mas dizer que a série é sobre sexo lésbico é um pouco superficial demais.

    É claro que há lésbicas, é claro que elas se pegam e eu não vejo nenhum problema sobre isso, mas limitar o sexo para definir a série não faz muito sentido, muito menos jus ao quanto maravilhosa é a série.

    Eh, mundão, quando vamos deixar de lado os preconceitos?

    Mas vamos à história

    A protagonista da série é Piper Chapman, uma mulher na casa dos 30 anos que foi condenada a 15 meses de cadeia por ter cometido um crime aos 20 e poucos anos, quando era namorada de Alex Vause, uma traficante internacional.

    Piper estava noiva de Larry, um cara boa praça, mas a sentença judicial fez com que os planos do casal fossem adiados e o mais difícil, abalados por conta da nova condição de ambos. Não deve ser fácil ter alguém que se ama na cadeia. Não é fácil estar na cadeia com alguém que se ama lá fora.

    Na cadeia, Chapman em vez de ficar em seu canto e não arrumar confusões, acaba se metendo em várias. É aí que mora o amor e o ódio (que já percebi), que as pessoas sentem da personagem. Mas ela é a protagonista, se ela não se meter em confusões não tem série, não tem história e fim.

    Ela já começa reclamando da comida para a presidiária responsável pela refeição, a Red, uma personagem para ficar de olho, que com certeza vai ter uma história interessante lá na frente. Digo isso porque a série vai soltando pequenos “flashs” da vida das mulheres antes da cadeia, o que deixa tudo muito curioso e instigante.

    Alex Vause

    Alex Vause é outra personagem interessante. Traficante de drogas internacional e aparentemente apaixonada por Chapman, é uma mulher centrada, equilibrada, silenciosa… parece que está sempre pronta para agir, mas também demonstra uma certa fragilidade. Ela parece se ajustar mais rápido à cadeia, mesmo chegando um pouco depois de sua amada.

    As outras mulheres da cadeia também são muito importantes para a série, pois cada história que vamos descobrindo, a vida na própria cadeia e antes dela, torna a série muito especial e tocante. Todas a mulheres são protagonistas de suas vidas e por acessos de raiva, crueldade, loucura e, em muitos casos, falta de oportunidades, acabaram indo para o caminho errado.

    O que mais me deixou comovida é a história de Suzanne Warren, apelidada de “Crazy Eyes”, uma detenta que parece ter algum distúrbio psicológico, ela chega a ser engraçada e bizarra, mas depois dos “flashs” sobre a vida dela (que aparecem na segunda temporada), é impossível não ficar incomodada e, principalmente, tocada por tudo o que ela passou – e ainda passa.

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    Os núcleos

    Na série há alguns “núcleos”, divididos pelas próprias detentas: o grupo das negras, das brancas, das latinas, das lésbicas, das que odeiam as lésbicas, das religiosas e tal. A princípio parece que elas não iram conviver mais de perto – ainda, mas no decorrer da série é possível perceber que nos momentos importantes elas se unem e se ajudam.

    Há uma sensação inicial que as mulheres irão se agredir fisicamente (e matar) umas às outras, mas depois aquele mundo do presídio fica mais calmo, não menos assustador, mas de alguma forma é possível compreender as regras daquelas mulheres.

    Amor e ódio

    Agora estou na metade da segunda temporada. Chapman e Alex continuam lá, se amando e se odiando no mesmo episódio. Cada vez mais a vida na cadeia se torna mais importante do que a vida lá fora, que não é mais palpável. A vida na cadeia transforma muito essas mulheres. Chapman, que entrou lá como um cordeirinho assustado, hoje consegue conviver com as outras detentas e, o mais difícil, ela consegue conviver consigo mesma, com tantas características próprias que ela só acabou descobrindo lá dentro, no olho do furacão, nos limites de sua sanidade.

    O mais incrível de tudo é que Orange Is The New Black é uma série sobre convivência social, sobre lidar com os problemas e não deixar que outros aconteçam. A vulnerabilidade de estar num lugar diferente, a revolta e o medo. A solidariedade e o individualismo. Somos todos assim… se homens, mulheres, lésbicas, gays, transexuais, jovens, adultos… tanto faz.

    Saiba mais:

    • Orange Is The New Black é uma série inspirada no livro de mesmo nome, escrito por Piper Kerman;
    • Piper Kerman realmente esteve numa cadeia, por ter 13 meses, por ter se envolvido com o tráfico de drogas, por conta da sua namorada…sim, sim…;
    • Hoje ela luta pela reforma do sistema de justiça criminal americano;
    • Em entrevista, ela disse que se arrepende muito sobre o crime que cometeu: “o que eu causei à minha família e às pessoas que me amam foi dor e preocupação. Outra verdade fundamental é que minhas ações causaram outros danos em outras pessoas em termos de abusos de substâncias”

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    2 Comentários

    1. Oi, Amanda!
      Seja bem-vinda ao blog! 🙂
      Pelo o que eu entendi ele foi infeliz mesmo na entrevista…. :/
      Orange é uma série muito importante… eu nunca tinha visto uma série com tantas mulheres no elenco e, o mais especial, tratando de temas difíceis e complexos, não apenas ficando no esteriótipo de que mulher só fala de roupa, maquiagem, etc…
      Bjão!!!

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