“Onde está o farol? Onde está Maria? Onde estou?
    Tenho que me controlar, me livrar do desespero. Nada de bobagens agora. Tenho que mostrar quem eu sou: um pai.” (p. 114)

    No mar é o nome do primeiro romance de Toine Heijmans, um escritor holandês de 46 anos, que venceu o prêmio Médicis Estrangeiro de 2013. A história, simples mas tão envolvente, é sobre a vida de um homem que gosta de velejar por vários motivos, mas principalmente pelo desejo de estar sozinho contemplando o mar. Tudo começa com pequenas observações sobre os perigos e maravilhas do mar, pelo próprio personagem Donald, mas de repente o leitor se vê junto dele, em alto mar, tentando salvar-se a si mesmo da solidão.

    A leitura é rápida porque a história é muito boa, mas o mais importante é o quanto ela consegue envolver o leitor. A cada página, o texto inicia-se em um ponto diferente da folha, causando o efeito de balanço, de ondas que nos levam para vários lugares, mesmo quando estamos parados.

    Donald foi um homem que nunca conseguiu viver uma grande história contemporânea, como conseguir um grande cargo numa boa empresa ou inspirar pessoas a serem felizes. Um sujeito mediano, que simplesmente vive tranquilo com a sua família, a mulher Hagar e a filha Maria, sem esperar grandes coisas do mundo. Mas o barco e o mar sempre foram um desejo, uma paixão que então ele decide conquistar após perceber que no trabalho ele é excluído pelo simples fato de não ser mais tão jovem.

    Ao receber 3 meses de férias, que ele considera um grande merecimento por tanto tempo de trabalho, Donald embarca na aventura de velejar. Ele possui um barco modesto chamado Ishmael, o mesmo nome do pescador do clássico Moby Dick, o desejo de se aventurar por um tempo nos mares europeus, um pequeno conhecimento sobre a arte de velejar e algumas histórias duvidosas sobre a sua capacidade de sobreviver no mar.

    Há a decisão de levar Maria, a sua filha de apenas 8 anos, numa pequena viagem de três dias, sendo este o ponto inicial da história. A garota, uma menina muito inteligente e exímia nadadora, acompanha o pai numa aventura que para muitos pode ser uma loucura. Por que o pai arrisca a própria filha num desejo, até bonito, mas perigoso, por ser ele um amador? As pessoas no píer também parecem se incomodar com o fato daquela criança estar junto de Donald, assim pensa ele. Mas, por outro lado, é maravilhoso a companhia da própria filha nesta pequena aventura… afinal o que pode acontecer? O mar está calmo, não há previsões de tempestades e ela parece estar tão feliz!

    O maior desejo de Donald é ser um pai incrível e inspirador. Se a profissão dele não lhe proporcionou grandes emoções, ele deposita na sua filha a felicidade plena, que parece tão fácil de alcançar, porém, ao perceber a ausência de Maria, a vida, que para Donald já estava transformada, muda a sua perspectiva de um pai cauteloso para um pai desesperado em busca da filha em alto mar. E o leitor, já entregue à história, se desespera junto, vibra junto, torce junto, se ilude junto com capitão daquele pequeno barco vermelho, mesmo sendo ele um narrador não confiável… mas o que se pode fazer quando se está sozinho em alto mar? Donald, por insisto, parece agir da melhor forma possível, e o leitor, que se sentirá enganado no final, vai também agradecer pela generosa aventura vivida.

    Assista ao vídeo no canal Livro&Café:

     

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