Uma das tarefas essenciais a todo escritor é a de procrastinar. E que melhor maneira de fazê-lo do que através de cursos sobre como escrever?

    Eu faço isso o tempo todo. Especialmente porque acredito que sim, é possível e preciso melhorar a própria escrita, o método como se trabalha, os elementos que devem ser incluídos ou retirados das tramas.

    Nesse caminho, já fiz alguns cursos de escrita criativa e todos eles me pareceram iguais. Você aprende o que é personagem, tempo, espaço, narrador… Conceitos, enfim, que para quem é da área de Letras já são mais do que íntimos. Além disso, você lê exemplos da Alta Literatura, recebe exercícios malignos e espera-se que, assim, você desenvolva seu estilo, quase que por osmose.

    A impressão que eu tenho é a de que os cursos ensinam muito sobre os ingredientes imprescindíveis a uma história, mas pouco sobre como e onde usá-los. É como ver o MasterChef. Você conhece pratos diferentes, especiarias inusitadas, mas só de assistir é incapaz de preparar uma receita completa.

    Por isso o curso “Da ideia ao livro”, do André Vianco me surpreendeu. Embora eu só conhecesse o autor de nome, confiei na propaganda e não me arrependi. Foram quase cinco horas de webinário, com técnicas que passaram bem longe dos conceitos batidos.

    O que Vianco ensina é muito mais do campo da Dramaturgia do que da Literatura, o que é excelente para os novos tempos, quando o livro precisa competir com o Netflix, tevês por assinatura e internet. As ferramentas mostradas são esmiuçadas, exemplificadas (muitas delas por séries, inclusive) e, o mais importante, colocadas em prática: em certo momento, uma notícia é escolhida de forma aleatória, em um site popular, e a partir da manchete uma história completa é delineada. Ponto a ponto. Possibilidade por possibilidade.

    Depois de compreender o que são unidade de ação e unidade temática, além da trajetória de cada personagem, é impossível não perceber estes mesmos esquemas em obras das quais você certamente é fã. Sim, nem todos os autores tem consciência disso, mas é para cortar caminhos que um curso assim serve. Certamente, se eu tivesse essas informações antes, muitos dos meus textos seriam diferentes. Mais coesos, mais bem pensados e melhor conectados.

    Se os outros cursos que eu fiz eram como o MasterChef, sofisticados, porém pouco úteis, este de André Vianco foi como o programa da Ana Maria Braga. Muitos podem considerá-lo um autor popular (o que é demérito no Brasil), mas ele não só mostra os pratos, como ensina cada um dos passos da receita, com total abertura e acessibilidade. Quando o curso termina, a impressão é de que você sabe exatamente o que precisa fazer, etapa por etapa, para dar vida à sua obra.

    Depois de aprender essas técnicas, só não escreve boas narrativas quem não quer. Ou então quem ocupa todo seu tempo procrastinado, como eu…

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