Quando começa o amor? Isso é possível de ser mensurador? O que os grandes autores dizem sobre isso?

    Adoro quando pequenas lembranças acontecem durante uma leitura. Você está lá lendo um belo livro e uma simples frase ou gesto de um personagem lembra uma outra história, outro livro, de outro escritor.

    Muitas vezes são livros totalamente diferentes um do outro, mas que provam a força da literatura por diversos motivos, um deles é que a literatura, assim como as artes em geral, muda de tempo em tempo, mas muitas referências permanecem iguais porque o livro nada mais é do que uma ideia sobre a humanidade, sobre a vida real. Sendo assim, o amor é tema corriqueiro nas histórias; seja em um romance clássico, moderno ou contemporâneo, ele está lá.

    É claro que, conforme a época (Trovadorismo, Romantismo, Modernismo, todos os “ismo”, etc) o amor aparece em formas muito diferentes. Algumas vezes ele é um amor romântico, outras vezes ele é apenas amor próprio, em outras é um amor pela humanidade e assim ele vai se moldando à história, mas sem nunca perder o valor, a curiosidade e o mistério.

    Assim, então, lendo Os Miseráveis (Victor Hugo), lembrei-me de uma frase de Virginia Woolf, que está no livro Noite e Dia, o segundo romance que ela escreveu:

    “Pois, dentre todas as impressões da conversa dessa noite, uma fora como que uma revelação e reduzira as demais à insignificância. Então era assim: a pessoa olhava, falava; era isso o amor.”

    p.244

    A frase do livro Os Miseráveis é:

    “Abusaram tanto do olhar nos romances de amor que se chegou, por fim, a desconsiderá-lo. Atualmente, é muito difícil alguém ousar dizer que duas criaturas se amaram porque se olharam. Contudo, é assim mesmo que se ama, e não existe outro modo. O resto não passa do resto, e só vem depois. Nada é mais real que esse grande abalo sofrido por duas almas que se comunicam por essa centelha.”

    p. 1226

    Noite Dia foi publicado em 1919. Os Miseráveis é de 1862. Virginia Woolf pertence ao Modernismo inglês e Victor Hugo ao Romantismo. De um lado há uma personagem tentando entender o seus sentimentos em relação a uma pessoa já conhecida. Do outro lado, em Os Miseráveis, não há dúvidas sobre o amor entre dois personagens que mal se conhecem.

    Pensando nessas duas situações, tão diferentes, mas que acabam por exemplificar à época literária a qual pertencem, não há dúvidas sobre a força do amor, mas sobre o real momento em que esse sentimento tão forte acontece.

    Para Victor Hugo, olhares trocados é o início de uma grande paixão. Para Virginia Woolf, a constatação do amor vem junto com o ato da conversa, como se o amor se construísse de fato, com esses dois ingredientes: olhar e falar.

    Interessante perceber também que Victor Hugo se mostra até um pouco irritado com o jeito que o amor é apresentado nos romances, porém, ele se conforma em aceitar que o amor é um assunto corriqueiro nos livros, que o torna clichê.

    Percebo, então, que o principal e mais belo no amor de Victor Hugo e no amor de Virginia Woolf é a simplicidade a qual os dois relatam esse sentimento tão misterioso mas verdadeiro. Um acaba complementando o outro, por um jeito de pensar diferente, mas que nas duas formas empregam a esperança no amor como continuidade de suas histórias.

    Leia o “Diário de Leitura Os Miseráveis”

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