Chegamos! Diário de Leitura Os Miseráveis FIM! E como resumir tudo isso que nos aconteceu? Os Miseráveis é uma história sobre…

    5ª e última Parte: Jean Valjean.

    Da página 1643 até o fim.

    Na barricada, Jean Valjean, após soltar Javert (o mundo dá voltas…), fica responsável por tirar os corpos inertes do meio da guerra. Um a um, ele carrega para um pequeno espaço lateral à barricada. O último corpo que ele carrega é de Marius, baleado. E para fugir dos policiais que estão cercando o local, ele entra no esgoto.

    Com detalhes, vamos conhecer os esgotos parisienses. Por horas, Jean Valjean carrega Marius, passa por momentos terríveis, sufocantes, em meio ao limbo e o cheiro. O leitor consegue imaginar o cheiro!

    Para se livrar de Javert, que etá em sua cola, Thernardier ajuda Jean Valjean, mas para coloca-lo na pista de Javert e sair-se, mais uma vez, livre. Ela aproveita o momento, para roubar Marius, mesmo “morto”.

    É Javert que, a pedido de Jean Valjean, leva os à casa do avô de Marius, para que ele seja cuidado. O acorda era que, após salvar Marius, Jean Valjean se entregaria à polícia, mas quando ele olha pela janela, percebe que Javert foi embora.

    Javert não tem coragem de prender Jean Valjean, além do grilheta ter salvo a sua vida, durante toda a história ele se mostrou como um homem arrependido e, da sua maneira, tentando pagar o mal que fez no passado. É como se Javert tivesse as suas convicções de certo e errado dilaceradas por Jean Valjean e assim, sem saber mais qual é o lado certo e possuir uma necessidade profunda em ter essa certeza, ele se joga no Rio Sena.

    O tempo passa, Marius e Cosette irão se casar. Jean Valjean passa toda a sua fortuna para Cosette, para felicidade do avô de Marius. Cosette será baronesa. Será feliz. E assim, o nosso herói, sente-se na obrigação de sair da vida da garota, para ela não ser prejudicada caso alguém saiba do passado de seu próprio pai.

    É doloroso o distanciamento de Jean Valjean e Cosette. A jovem, sem saber ao certo o que está acontecendo, aceita as mudanças na relação com o seu pai, um pedido que vem dele próprio, mas também de Marius, que sabe apenas uma parte da história.

    Demora um tempo para que Marius descubra tudo sobre Jean Valjean e passe a admirá-lo com profundidade, assim como o leitor.

    O final é com Marius, Cosette e Jean Valjean, reafirmando o amor entre eles, mas também se despedindo.

    A gente se pergunta nas tantas pessoas que perderam a vida para Marius poder casar-se com o Cosette, para que ela, finalmente, como desejou Fantine, deixasse a vida miserável.

    A gente pensa no quanto Jean Valjean foi heroico e que a sua força física descomunal, não era nada perto do seu brilhante caráter.

    A rigidez de um pensamento pode levar a pessoa à morte, aprendemos isso com Javert. Flexibilidade para aceitar o que é diferente é um dom raro e, principalmente, deixar-se mudar, deixar-se abalar e se reconstruir. Todos os dias.

    Quando estamos na luta, é preciso manter a alegria, assim como Gavroche.

    Diários anteriores: Semana 1, Semana 2, Semana 3, Semana 4, Semana 5, Semana 6 e 7 e últimas semanas.

    10/04/2016 – leitura concluída

    Chegou o dia que concluí a leitura do livro Os Miseráveis. Apesar de ter organizado uma tabela de leitura, para tentar segui-la com determinação até o final, muitas coisas aconteceram durante os meses de janeiro a abril, período definido para a leitura, com uma média de 150 páginas por semana. Eu tive ressaca literária e várias coisas que eu gostaria de ter feito durante o projeto não saíram do papel, ficou mesmo só no desejo, entretanto, o grupo do Facebook colaborou muito para a união dos participantes, o que me deixou feliz mesmo durante a ressaca. Foi muito bom entrar no grupo e ver tantas publicações e compartilhamentos dos leitores de Victor Hugo. Então, antecipo aqui o meu muito obrigada a todos que embarcaram nesse projeto!

    Agora, como resumir Os Miseráveis? O que dizer sobre o livro? É difícil definir, pois a obra é tão completa no sentido literário e humano, que fica difícil qualquer interpretação superficial sobre o que é o livro, os personagens, etc. Mas eu posso comentar sobre a minha experiência e também sobre o que me impulsionou a conseguir concluir a leitura da obra de mais de 1900 páginas em um pouco mais de 100 dias.

    A construção de grandes personagens

    Jean Valjean, sem dúvidas, é o personagem que impulsiona a leitura. É por ele que encaramos os tantos detalhes da história. É por ele que aceitamos a chegada de cada personagem e, principalmente, acreditamos que o livro será capaz de surpreender a cada capítulo.

    Fantine, que está presente apenas no começo da obra, também recai sobre ela uma enorme importância à história, pois a vida de Jean Valjean é transformada também por Fantine e sua filha Cosette. É claro que, a princípio temos o Bispo que representa uma grande transformação em Jean Valjean, mas é por Fantine e pelo amor que ele sente na criança Cosette, que a história ganha força. Tudo que Jean Valjean faz é por Cosette e por não ter conseguido fazer tudo a tempo para também salvar Fantine.

    A chegada de Marius e Gavroche dão à obra um sentido maior de aventura e luta social. Antes, tínhamos Javert tentando prender Jean Valjean, mas com a chegada desses dois novos personagens, ampliamos muito a discussão sobre o papel do poder (o rei, a polícia, as leis, etc) e o povo.

    Marius é o Romeu, Cosette é Julieta, porém o final é feliz. Um amor clássico que chega em um momento bom da história, pois, antes disso, cada personagem apenas lutava por sobrevivência e a única lembrança que o leitor pode ter de uma história de amor é com Fantine mas que era tudo uma grande ilusão.

    Uma representação intensa

    Gavroche tem uma representação muito intensa. É um personagem que chega aos poucos, mas quando ele faz parte da história, no sentido de colaborar para as ações de outros personagens, o leitor está totalmente encantado por ele, pois, por meio das enormes e maravilhosas descrições e explicações de Victor Hugo sobre Paris e as pessoas que vivem na cidade, Gavroche o garoto se torna a personificação da própria coragem, da alegria e também da realidade social, tão dura, para os pobres, os miseráveis.

    O momento da luta de todos os “miseráveis” contra a monarquia é de enorme importância, pois, de repente, até os personagens que possuem alguma divergência de pensamento estão lutando juntos, por uma Paris livre. Assim, é na barricada que Marius, Gavroche, Jean Valjean, Eponine e outros nomes que aparecem ao longo da obra, se solidificam como uma única força, uma única energia em prol da liberdade e o fim da miséria.

    Jean Valjean salva Marius, por Cosette. Jean Valjean tem a oportunidade de matar Javert, mas o deixa livre. Jean Valjean começa a compreender que a sua vida está chegando ao fim, pois a promessa que fez a Fantine, de cuidar de Cosette, se mostra concluída com a chegada de Marius.

    Não esquecer do passado…

    Jean Valejan, sempre em grandiosas digressões sobre a própria vida, não esquece em nenhum momento de que um dia foi um ladrão e assim, vive em um constante embate pessoal, a sua maior luta, para aceitar o seu próprio passado, como se ele fosse um eterno presidiário, incapaz de viver uma vida comum. Porém, se Jean Valjean é o grande herói da história, isso acontece justamente por ele não esquecer do seu difícil passado.

    Então, Os Miseráveis é uma história sobre os pobres, sobre os marginais, aqueles que não faziam parte dos luxos da vida parisiense. Vitor Hugo nos mostra um mundo dilacerado pela riqueza, um mundo de pessoas sem voz, mas que se fortalecem como um grupo. Jean Valjean é como um líder revolucionário, mas não no sentido de liderar um grupo para a guerra, como faz os amigos de Marius. Jean Valjean é um líder porque não desiste de ser bom, não desiste de ser justo, porém uma justiça muito diferente da empregada por Javert, que é um homem da lei, um homem que está do lado da riqueza parisiense, um homem que representa a monarquia. O que difere os dois personagens é a amplitude da palavra justiça. Javert, segue a lei dos homens. Jean Valjean estende a sua moral de justiça para si mesmo e também para todas as pessoas, independente se ricas ou pobres.

    Victor Hugo expõe em sua obra algo muito importante nos dias de hoje: empatia pelo diferente, por aqueles que estão à margem, que não vivem no mesmo grupo social, que não possuem os mesmos anseios. Além da aula de literatura, técnica, estilo e genialidade, ensina o leitor a se colocar no lugar do outro.

    Quando a obra foi lançada, em 1862, o contexto era de uma literatura feita para agradar os ricos, repleta de personagens da alta sociedade, porém, Victor Hugo (e alguns outros nomes da mesma época, como Charles Dickens), colocaram os pobres como protagonista, de forma a trazer o olhar das pessoas para o lado marginal de Paris. Sabe-se que a monarquia da época reconhecia o problema da miséria, porém nada fazia para erradica-la. Portanto, Os Miseráveis é uma obra que veio para criticar a sociedade do século XIX, porém, infelizmente, ela continua a criticar a nossa sociedade também que, no século XXI ainda luta pelo fim da miséria. O pobre ainda luta por sua visibilidade, como o rico que ainda luta para manter-se intocável.

    “Enquanto os três problemas do século – a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância – não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis” (Victor Hugo, 1862)

    Assista ao vídeo no canal Livro&Café!

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