Quando iniciei a leitura de O Quarto de Jacob (Virginia Woolf), logo nos primeiros capítulos, os personagens desenhavam-se em minha mente como parte de um quadro impressionista. Consequentemente, lembrei-me de Vanessa Bell, a irmã tão querida de Virginia Woolf que fazia quadros com alguns traços impressionistas. 

O impressionismo foi marcado, principalmente, pelas obras de Monet (1840-1926) e sua base é a ideia de paisagens com traços leves e não bem marcados, mas sim “borrões” que formam o desenho e O Quarto de Jacob é assim: fragmentos da vida de Jacob Flanders, personagem inspirado no irmão de Virginia Woolf que morreu muito jovem, de tifo.

A liberdade para escrever de Virginia Woolf

Para eu conseguir expressar o que é realmente este livro, utilizo um trecho do ensaio “Um Teto Todo Seu” de Virginia Woolf também, onde ela afirma que é necessário para uma mulher conseguir escrever um espaço todo seu, um teto. E eu aumento a frase assim: a mulher precisa de um teto todo seu e de liberdade. Pois foi isso que possibilitou Virginia Woolf chegar ao resultado belíssimo da obra O quarto de Jacob.

Os dois romances anteriores de Virginia Woolf, Noite e Dia e A Viagem, foram feitos sobre o olhar da editora de seu meio-irmão, que era uma pessoa muito presa aos romances tradicionais, não deixando Virginia Woolf à vontade para escrever com a sua imaginação livre. Ela tinha de se prender as formas conhecidas de um romance, não era permitido criar, inventar e caminhar para o desconhecido, ela era “obrigada” a manter um padrão para que o seu livro fosse publicado. Mas então, ela e Leonard Woolf compraram a Hogarth Press e isso pode ser interpretado como a compra da liberdade literária de Virginia Woolf.

E assim nasceu O Quarto de Jacob, o primeiro livro de Virginia Woolf lançado pela sua própria editora. O livro que ela pode experimentar a escrita livre e deixar sua marca na literatura moderna mundial. Quando ele foi publicado, muitos críticos da época o chamaram de “um romance futurista”, pois a história é contada através de fragmentos da vida de Jacob, personagens entram e saem da história, alguns voltam, outros não e uma paisagem impressionista é desenhada ao fundo enquanto os personagens se movimentam.

O que mais gostei no livro foi a maneira como percebemos os sentimentos de Jacob. Virginia Woolf, genial como sempre, não informa isso através de descrições comuns, mas sim através do próprio silêncio dele; e isto parece impossível – conhecer o personagem através de seu próprio silêncio; mas não para Virginia Woolf, a grande dama do romance moderno que cada vez mais me prova o seu poder. Ela é perfeita. 

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8 Comentários

  1. Amo ‘O Quarto de Jacob’!! Li em inglês e depois li algumas traduções e sempre amei! Digo que para se ler um livro assim é preciso estar bem preparado, pois silêncio e ausência são entidades tão subjetivas quanto a própria essência da obra woolfiana. Por isso, acho importante ter passado pela experiência dos romances pré-fluxo. Destes, ‘A Viagem’ é o meu preferido.

    Bjo e boas leituras!!

  2. Francine, que post mais inspirador. Fiquei com vontade de ler “O Quarto de Jacob” e também me deixar levar por esse mundo impressionista. Quem sabe eu também não me aventure.

    Ah, gostaria de agradecer sua visita ao meu blog e seu comentário. E respondo aqui a sua indagação sobre o livro de Saramago.
    Trata-se de “Viagem a Portugal”, da Companhia das Letras, 1997. p.488.
    É uma coleção de crônicas escritas por ele.

    Beijos.

  3. Eu tinha elaborado uma sequência de leitura, seria ela, “Entre os Atos”, “As Ondas”, “Os Anos”, e só então “O Quarto de Jacob”, li os dois primeiros, agora me sinto tentado a deixar “Os Anos” para mais tarde! XD

  4. haahah eu comecei a ler os Anos, mas parei… a história não me conquistou, preciso tentar de novo…rs

  5. Clarissa Benário on

    Gostei bastante do livro “O Quarto de Jacob”, mas confesso que ele não foi um dos meus favoritos, talvez mais por gosto pessoal mesmo, pois me entedio com facilidade diante de descrições de cenário. Virginia Woolf dá bastante detalhes sobre a natureza nesse livro com a intenção de misturar as cores e as imagens em nossa mente. Eu prefiro a descrição dos sentimentos. Mas de qualquer forma, leia “O Quarto de Jacob”, não existe nenhum livro da Virginia que não seja recomendável. =)

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