No dia 14 de dezembro, será inaugurado em Sorocaba a Mofo Galeria, idealizado por Marcio Bertasso, com organização de Alessandra Rodrigues, Camis Fontenele e Flavia Aguilera. A Mofo Galeria fará parte do Complexo Mofo, que, desde julho de 2016, tem se consolidado como referência de coworking em Sorocaba e região, com toda a infraestrutura necessária para atender home-officers, autônomos, empresas e startups. Além disso, o espaço conta  com estúdio musical e mantém agenda de eventos culturais.

    Imagem: Facebook/Complexo Mofo.

    A galeria tem por objetivo fazer parte e contribuir com a cena de artes visuais de Sorocaba, possibilitando a aproximação do público com a produção que vem sendo realizada na cidade. Inicialmente, o acervo contará com obras dos artistas Adriana Dias, Alessandra Rodrigues, Celso Lara, Daniel Bruson, Diana Lanças, Felipe Fejão, Maria Radicce e Thiago Goya. As produções em exposição estarão à venda e foram impressas pelo estúdio de Impressão Fine Art, certificado pela Canson, WePrint, parceiro da galeria.

    O Livro e Café fez uma entrevista bem legal com o Márcio, proprietário do Complexo Mofo, para conhecer um pouco mais sobre a abertura da galeria e suas opiniões sobre o cenário artístico em Sorocaba e no Brasil. Confira:

    Livro & Café: Nos fale um pouquinho sobre você e a criação do Complexo Mofo.

    Marcio Bertasso: Em janeiro, completo 40 anos e há dois eu não me imaginava fazendo o que faço hoje. O Complexo Mofo fez minha vida mudar de direção 180º. Explico. Aos 14 anos montei minha primeira banda, aos 15 comecei a trabalhar, aos 18 montei minha segunda banda e fui estudar Filosofia – queria fazer carreira acadêmica. Aos 22 passei num concurso público, virei bancário, montei minha terceira banda e fui morar com a Ana. Aos 24 fui pai, financiei minha primeira casa e lá montei meu primeiro estúdio, que ficava embaixo da cozinha, num porão minúsculo de teto baixo e úmido – Mofo foi o apelido mais apropriado para aquilo. Aos 26 montei minha quarta banda, aos 28 mudei de casa, virei executivo dentro do banco, montei minha quinta banda e junto com a casa nova veio um estúdio novo, o Mofo de Ouro. A partir daí, minha vida seguiu um roteiro padrão classe média. Aos 36 eu já não sabia quem eu era, do que eu gostava, as pessoas que eu amava e percebi que eu iria colapsar antes dos 40. O Mofo começa nesse ponto. Aos 36 abri o Mofo ao público, comecei a fazer alguns eventos para as bandas conhecerem o espaço; alguns amigos me sopraram a ideia de incorporar um coworking ao negócio e assim surgiu o Complexo Mofo, em julho de 2016. Mas o lance é que eu não tinha tempo para me dedicar e, seis meses, depois já pensava em desistir. Aos 38 resolvi pedir demissão do banco, depois de 15 anos de trabalho, e recomeçar minha vida. Acho que é isso.

    Livro & Café: Como surgiu a ideia de fazer uma galeria no Mofo? 

    Marcio Bertasso: A decoração do Mofo sempre contou com artes visuais: pôsteres, cartazes, ilustrações, fotografias etc. Em todo canto tem informação visual. As pessoas chegam aqui e ficam olhando tudo com atenção e é muito comum perguntarem onde comprar, quem fez etc. Foi aí que pensei: por que não manter obras de artistas locais expostas e à venda? Nós temos uma circulação bem bacana de pessoas no coworking, no estúdio, em eventos, e acho que pôr essas pessoas em contato com obras de arte fora de uma galeria tradicional é uma forma de ampliar o público dos artistas e criar uma ocasião de consumo. Com essa ideia em mente, eu procurei a Flavia Aguilera, a Camila Fontenele e a Alessandra Rodrigues para me ajudar. Elas toparam e trouxeram o Paulo, da WePrint, como parceiro na impressão das obras. Contatamos um grupo inicial de artistas para ouvir a ideia e quem topou está dentro do acervo inicial, que deve crescer nos próximos meses com novas obras e artistas.

    Marcio Bertasso
    Marcio Bertasso, proprietário do Complexo Mofo. Imagem: Facebook/Marcio Bertasso.
    Livro & Café: O que você pensa sobre a relação entre arte e política em tempos tão polarizados, que colocam a arte como alvo de perseguição?

    Marcio Bertasso: Eu acredito no poder de transformação da arte e que fazer arte é um ato político sim, sempre. Mas ela depende do receptor, do público, para cumprir seu ato político. Ela pode fazer refletir, abstrair, simular, destruir, transformar, gerar empatia e criar entendimento e visões de mundo, mas só se seu receptor a receber e assim a perceber. Nesse sentido, entendo que a Mofo Galeria e outras iniciativas que buscam pôr pessoas em contato com a arte, em especial fora de espaços de consumo padrão, cumprem um papel muito importante na medida em que conectam pessoas a expressões artísticas e artistas. E por mais que o momento seja de polarização política, com episódios de perseguição explícita, acredito que a produção artística não está e não será comprometida.

    Livro & Café: Como você enxerga a cena das artes visuais de Sorocaba atualmente?

    Marcio Bertasso: Tem muita gente incrível produzindo, se organizando e fazendo a cena, não é um grupo ou movimento isolado. Eu poderia, com certeza, fazer uma lista de mais de 100 aqui, com certeza. Por outro lado, o que constatamos é que a valorização do trabalho dessas pessoas é algo que compromete a produção e sustentabilidade de muitas delas. Precisamos estimular e educar o público para a valorização dos artistas, de forma que a produção artística seja vista também como uma atividade laboral e obras como produtos/origem de renda. É muito triste ver gente passando dificuldades tendo trabalhos incríveis guardados num canto de casa.

    Livro & Café: Quais os objetivos que você espera atingir com a Mofo Galeria e quais os planos futuros do Mofo?

    Marcio Bertasso: Ver artistas comercializando suas obras por um preço justo e pessoas felizes levando para casa trabalhos incríveis. Só isso, rs. Inicialmente faremos apenas vendas presenciais. A pessoa poderá até reservar por telefone ou pelo Instagram, mas o pagamento e a retirada terá de ocorrer no Mofo. Em breve, deveremos passar a oferecer compra direta pelo site e envio pelo correio. Quanto ao Complexo Mofo como um todo, estamos trabalhando para abrir uma segunda unidade em 2019. E é claro que também terá a Mofo Galeria.

    Serviço:
    Exposição coletiva de inauguração da Mofo Galeria
    Dia 14 de dezembro, sexta-feira, das 19h30 às 21h30
    Complexo Mofo (Rua Eugênio Rabelo, 74, Sorocaba/SP – Telefone: 15 99131-1079 e 15 3217-8967)
    Entrada gratuita
    Informações: página do evento no Facebook

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