“O sertanejo é, antes de tudo, um forte” é uma frase icônica de Euclides da Cunha em Os Sertões, lançado em 1902, e considerado o primeiro livro-reportagem brasileiro.

    O autor talvez não fizesse ideia de que seu ponto de vista, que o levou a escrevê-la, seria forjado somente após ver com os próprios olhos as barbáries cometidas contra um povo que estava, simplesmente, tentando viver. Povo esquecido e abandonado pela então recente formada república.

    os sertões

    Passado mais de um século, em 2019 o Quadrinhos na Cia., selo da Companhia das Letras, revive o clássico por meio da HQ Os Sertões: a luta, com a história adaptada por Carlos Ferreira e ilustrações de Rodrigo Rosa. A obra retrata a jornada de Euclides, ex-engenheiro militar que tecia relação de amor e ódio com o exército brasileiro, quando foi convidado como correspondente do jornal O Estado de São Paulo para cobrir a Guerra de Canudos, nos sertões baianos, em um momento em que a mídia paulista, carioca e local noticiavam, de maneira totalmente parcial, os conflitos. Tal imprensa retratava os canudenses, habitantes da fazenda Belo Monte, como desordeiros, perigosos, e Antônio Conselheiro como um líder religioso que oferecia riscos à Igreja Católica.

    “Abandonados por políticos e grandes proprietários, padecendo com a seca e a recessão que flagelavam o país, milhares de sertanejos dirigiam-se para aquela espécie de cidadela movidos por crença na salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão do “martírio secular da terra” e do clima, bem como da exclusão socioeconômica.” (p. 8)

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    O que acontece é que ao chegar aos arredores de Belo Monte, o então jornalista se deparou com uma realidade que em nada se assemelhava ao que os jornais retratavam. Estavam atacando gente pobre e sofrida. Gente esta que resistiu aos três primeiros ataques do exército republicano, entre eles o que culminou na morte do capitão Moreira César, escolhido especialmente para a missão de dizimar Canudos por seus feitos gloriosos em campanhas passadas.

    Foi em meio a esse contexto que Euclides retornou do cenário apocalíptico após a última e trágica investida do exército, e seus registros acabaram por se tornar o grande clássico que conhecemos.

    Esta versão, lindissimamente ilustrada por Rodrigo Rosa, chega às livrarias de todo o país em um momento extremamente propício. Faz-se urgente que se desenhe a história. Não basta falar, explicar. Pouca gente quer ler. É necessário desenhar. E mais uma vez, parafraseando Eduardo Bueno: “um país que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la”.

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