Outros autores também foram importantes dentro das três gerações do Romantismo Português, conheça-os!

    O Romantismo foi uma manifestação artística que marcou a passagem do século XVIII para o XIX em diversos países europeus, com as devidas particularidades de cada local. Em Portugal, o início do Romantismo foi definido com a publicação do poema “Camões”, de João de Almeida Garrett. Escrito no momento em que o país se encontrava sob domínio inglês e enfrentava graves perturbações políticas, a obra tenta resgatar o passado e o orgulho do povo português.

    Mas outros autores também foram importantes dentro das três gerações do Romantismo português, então vamos destacar alguns deles:

    Alexandre Herculano

    Alexandre Herculano (1810-1877) foi um poeta, romancista e historiador do primeiro momento do romantismo. Suas obras têm características únicas e abordam temas nacionalistas e  filosóficos, como a finitude humana ante a transcendência do cosmo. Também abrangem alguns temas que seriam mais recorrentes no ultrarromantismo, como morte, solidão e paisagens noturnas; além de algumas questões morais envolvendo religião, como a questão do celibato clerical, que teria causado alguns problemas com a Igreja Católica.

    Leia mais: O que é Romantismo?

    “Deus”, de Alexandre Herculano

    Nas horas do silêncio, à meia-noite,
    Eu louvarei o Eterno!
    Ouçam-me a terra, e os mares rugidores,
    E os abismos do inferno.
    Pela amplidão dos céus meus cantos soem
    E a Lua prateada
    Pare no giro seu, enquanto pulso
    Esta harpa a Deus sagrada.Antes de tempo haver, quando o infinito
    Media a eternidade,
    E só do vácuo as solidões enchia
    De Deus a imensidade,
    Ele existia, em sua essência envolto,
    E fora dele o nada:
    No seio do Criador a vida do homem
    Estava ainda guardada:
    Ainda então do mundo os fundamentos
    Na mente se escondiam
    Do Onipotente, e os astros fulgurantes
    Nos céus não se volviam.Eis o Tempo, o Universo, o Movimento
    Das mãos sai do Senhor:
    Surge o Sol, banha a terra, e desabrocha
    Sua primeira flor:
    Sobre o invisível eixo range o globo:
    O vento o bosque ondeia:
    Retumba ao longe o mar: da vida a força
    A natureza anseia!Quem, dignamente, ó Deus, há de louvar-te
    Ou cantar teu poder?
    Quem dirá de teu braço as maravilhas,
    Fonte de todo o ser,
    No dia da criação; quando os tesouros
    Da neve amontoaste;
    Quando da terra nos mais fundos vales
    As águas encerraste?!
    E eu onde estava, quando o Eterno os mundos,
    Com destra poderosa,
    Fez, por lei imutável, se livrassem
    Na mole poderosa?
    Onde existia então? No tipo imenso
    Das gerações futuras;
    Na mente do meu Deus. Louvor a Ele
    Na terra e nas alturas!
    Oh, quanto é grande o Rei das tempestades,
    Do raio, e do trovão!
    Quão grande o Deus, que manda, em seco estio,
    Da tarde a viração!
    Por sua Providência nunca, embalde,
    Zumbiu mínimo inseto;
    Nem volveu o elefante, em campo estéril,
    Os olhos inquieto.
    Não deu ele à avezinha o grão da espiga,
    Que ao ceifador esquece;
    Do norte ao urso o Sol da primavera,
    Que o reanima e aquece?
    Não deu Ele à gazela amplos desertos,
    Ao cervo a amena selva,
    Ao flamingo os pauis, ao tigre o antro,
    No prado ao touro a relva?
    Não mandou Ele ao mundo, em luto e trevas,
    Consolação e luz?
    Acaso, em vão, algum desventurado
    Curvou-se aos pés da cruz?
    A quem não ouve Deus? Somente ao ímpio
    No dia da aflição,
    Quando pesa sobre ele, por seus crimes,
    Do crime a punição.Homem, ente imortal, que és tu perante
    A face do Senhor? És a junça do brejo, harpa quebrada
    Nas mãos do trovador!
    Olha o velho pinheiro, campeando
    Entre as nuvens alpinas:
    Quem irá derribar o rei dos bosques
    Do trono das colinas?

    Ninguém! Mas ai do abeto, se o seu dia
    Extremo Deus mandou!
    Lá correu o aquilão: fundas raízes
    Aos ares lhe assoprou.
    Soberbo, sem temor, saiu na margem
    Do caudaloso Nilo,
    O corpo monstruoso ao Sol voltando,
    Medonho crocodilo.
    De seus dentes em volta o susto habita;
    Vê-se a morte assentada
    Dentro em sua garganta, se descerra
    A boca afogueada:
    Qual duro arnês de intrépido guerreiro

    É seu dorso escamoso;
    Como os últimos ais de um moribundo
    Seu grito lamentoso:
    Fumo e fogo respira quando irado;
    Porém, se Deus, mandou,
    Qual do norte impelida a nuvem passa,
    Assim ele passou!

    Teu nome ousei cantar! — Perdoa, ó Nume;
    Perdoa ao teu cantor!
    Dignos de ti não são meus frouxos hinos,
    Mas são hinos de amor.
    Embora vis hipócritas te pintem
    Qual bárbaro tirano:
    Mentem, por dominar, com férreo cetro,
    O vulgo cego e insano.
    Quem os crê é um ímpio! Recear-te
    É maldizer-te, ó Deus;
    É o trono dos déspotas da terra
    Ir colocar nos céus.
    Eu, por mim, passarei entre os abrolhos
    Dos males da existência
    Tranqüilo, e sem terror, à sombra posto
    Da tua Providência.

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    Camilo Castelo Branco

    A segunda geração consolida o movimento romântico em Portugal. Caracteriza-se pelas ideias do “mal do século”: negativismo, morbidez e sentimentalismo exagerado. O principal autor dessa tendência foi o romancista Camilo Castelo Branco (1825-1890), autor de estilo passional e pitoresco. Muitos de seus personagens são obsessivos, senhores de atos extremos, sempre movidos por grandes paixões. Escreveu mais de 260 obras, entre romances, novelas, poemas, ensaios, traduções, prefácios, textos jornalísticos e de historiografia, crítica literária, teatro, discursos.

    “Perdida!”, de Camilo Castelo Branco (1850)

    Veloz, qual flecha impelida
    O meu cavalo corria…
    Eu tinha a febre da raiva,
    Abrasava-me a agonia,
    E o cavalo generoso
    O meu ódio concebia.

    Os precipícios transpunha
    Sem as rédeas sofrear!
    Longe, ao longe eu ansiava
    Este horizonte alargar;
    Procurava mundos novos,
    Faltava-me ali o ar.

    E, de relance, deviso
    Linda flor em ermo Val,
    Mal aberta, e aljofrada
    Pelo orvalho matinal,
    Reacendendo solitária
    Seu perfume virginal.

    Nenhum homem lhe tocara,
    Nem talvez a vira ali!
    Tive orgulho de encontrá-la,
    Que outra mais bela não vi.
    Mas o ímpeto indomável
    Do cavalo não venci.

    E perdi-a! Não me lembro
    Onde vi tão linda flor!
    Sei que lá me fica a alma
    Como um feudo pago à dor.
    Outros lábios viral dar-lhe
    Férvido beijo d’amor. 

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    João de Deus de Nogueira Ramos

    O poeta português João de Deus de Nogueira Ramos (1830-1896) se sobressaiu na terceira geração do Romantismo português, fase livre dos exageros ultrarromânticos e que apresenta espontaneidade lírica e musical.

    “Amores, Amores”, de João de Deus

    Não sou eu tão tola
    Que caia em casar;
    Mulher não é rola
    Que tenha um só par:

        Eu tenho um moreno,
    Tenho um de outra cor,
    Tenho um mais pequeno,
    Tenho outro maior.
    Que mal faz um beijo,
    Se apenas o dou,
    Desfaz-se-me o pejo,
    E o gosto ficou?

        Um deles por graça
    Deu-me um, e, depois,
    Gostei da chalaça,
    Paguei-lhe com dois.
    Abraços, abraços,
    Que mal nos farão?
    Se Deus me deu braços,
    Foi essa a razão:

        Um dia que o alto
    Me vinha abraçar,
    Fiquei-lhe de um salto
    Suspensa no ar.
    Vivendo e gozando,
    Que a morte é fatal,
    E a rosa em murchando
    Não vale um real:

        Eu sou muito amada,
    E há muito que sei
    Que Deus não fez nada
    Sem ser para quê.
    Amores, amores,
    Deixá-los dizer;
    Se Deus me deu flores,
    Foi para as colher:

        Eu tenho um moreno,
    Tenho um de outra cor,
    Tenho um mais pequeno,
    Tenho outro maior.

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