O poeta, compositor e músico Arnaldo Antunes tem uma produção artística vasta. Seu primeiro livro foi publicado em 1983 e hoje, o autor possui mais de 20 livros publicados. Dois deles ganharam o Prêmio Jabuti. Como um bom artista contemporâneo, ele não se prende às formas e estilos, porém, é fácil perceber suas características como poeta, pois elementos do concretismo, que misturam som, palavras e imagens fazem parte de seu repertório eclético e de qualidade. Confira abaixo 7 poesias de Arnaldo Antunes.

    Nas palavras do professor da USP Antonio Medina Rodrigues: “Arnaldo Antunes medita sobre o precipício das palavras. Armado com tintas de carimbo, ele produz um vaivém incessante, um jogo de esconde-esconde entre as letras e as formas.” 

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    Nome

    algo é o nome do homem
    coisa é o nome do homem
    homem é o nome do cara
    isso é o nome da coisa
    cara é o nome do rosto
    fome é o nome do moço
    homem é o nome do troço
    osso é o nome do fóssil
    corpo é o nome do morto
    homem é o nome do outro

    Cultura

    O girino é o peixinho do sapo
    O silêncio é o começo do papo
    O bigode é a antena do gato
    O cavalo é pasto do carrapato

    O cabrito é o cordeiro da cabra
    O pescoço é a barriga da cobra
    O leitão é um porquinho mais novo
    A galinha é um pouquinho do ovo

    O desejo é o começo do corpo
    Engordar é a tarefa do porco
    A cegonha é a girafa do ganso
    O cachorro é um lobo mais manso

    O escuro é a metade da zebra
    As raízes são as veias da seiva
    O camelo é um cavalo sem sede
    Tartaruga por dentro é parede

    O potrinho é o bezerro da égua
    A batalha é o começo da trégua
    Papagaio é um dragão miniatura
    Bactérias num meio é cultura.

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    Os buracos do espelho

    o buraco do espelho está fechado
    agora eu tenho que ficar aqui
    com um olho aberto, outro acordado
    no lado de lá onde eu caí

    pro lado de cá não tem acesso
    mesmo que me chamem pelo nome
    mesmo que admitam meu regresso
    toda vez que eu vou a porta some

    a janela some na parede
    a palavra de água se dissolve
    na palavra sede, a boca cede
    antes de falar, e não se ouve

    já tentei dormir a noite inteira
    quatro, cinco, seis da madrugada
    vou ficar ali nessa cadeira
    uma orelha alerta, outra ligada

    o buraco do espelho está fechado
    agora eu tenho que ficar agora
    fui pelo abandono abandonado
    aqui dentro do lado de fora

    Normal

    arnaldo antunes

    Átomo

    arnaldo antunes

    Nada

    arnaldo antunes

    Arnaldo Antunes também produziu o vídeo “Isto não é um poema”. Um manifesto poético contra Bolsonaro, em 2018.