Ninguém é totalmente calmo, ninguém é totalmente agressivo, todo mundo tem o seu dia de fúria quando até um simples bom dia pode acabar em briga, porrada mesmo. Má educação? Falta de respeito? O que leva a gente a voar no pescoço daquela pessoa que apenas falou bom noite ou, em casos mais complexos, expôs uma opinião contrária a nossa? Mulheres dizem que é a TPM, os homens não dizem nada, mas os dois sexos que partiram para a agressão física estão errados. É assim: você pode humilhar com todo o seu poderoso vocabulário ou aplicar uma complexa tortura psicológica, mas porrada não.

    2666

    Comento sobre isso porque 2 dos 4 amigos criados por Roberto Bolaño em 2666, apesar de serem civilizados, modernos, educados e, aparentemente, calmos, tiveram um dia de fúria e espancaram um taxista que utilizou palavras sujas para descrever a relação deles com a Norton. Enfim, foi uma pancadaria só e, claro, agora os dois personagens estão arrependidos. E não, eles não foram para a igreja confessar o pecado, mas deram às costas para o trabalho de pesquisa sobre Archimbold e resolveram afogar as mágoas nos prostíbulos sujos da cidade. Como se o ato covarde deles tivesse como punição a perda do controle de suas vidas, da dignidade. Esse é Bolaño.

    Ler também é como ser o responsável pela escolha dos atores que irão interpretar os personagens num filme. Na medida do possível sou fiel à descrição do autor. A Norton, por exemplo, na minha mente, é interpretada pela Carla Bruni. Os outros três amigos ainda não estão bem definidos, mas imagino Pelletier bem magro, Morini com a expressão cansada e Espinoza um moreno charmoso. Sean Penn, Ed Harris e Javier Bardem, talvez.

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    2666 (Roberto Bolaño): a quebra de padrões literários
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