Não sei se é possível falar que algo foi bom neste ano, mas vou abrir uma exceção para os melhores livros de 2020. Nos últimos 12 meses, tivemos ótimos lançamentos de ficção e não ficção, nacionais e internacionais.

    E nesta seleção, sempre muito particular e incompleta, busquei trazer mais autoras e autores brasileiros. Se eu deixei algum nome de fora, me perdoe – e deixe a indicação nos comentários, quem sabe não tenha uma segunda parte?

    A alma perdida

    Ilustrada por Joanna Concejo, vencedora da Menção Especial do Prêmio Bologna Ragazzi 2018, A alma perdida, selecionada no White Ravens 2019, é a nova obra-prima da escritora polonesa Olga Tokarczuk, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura. Um livro que encanta, enternece e faz pensar. Era uma vez um homem que trabalhava muito e quase não prestava atenção no tempo que passava diante de seus olhos. Não que sua vida fosse ruim. Ele apenas sentia que tudo ao seu redor estava plano, como se estivesse se movendo na folha de um caderno de matemática inteiramente coberta por quadradinhos iguais e onipresentes.

    Esta é uma história que leva o leitor a buscar a si mesmo, conduzindo-o a um desenlace maravilhoso e inesperado, como só os grandes contos de fadas são capazes de fazer. Uma história que se abre para o futuro ― sem respostas, mas com inúmeras e fascinantes perguntas destinadas a todas as idades. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    A bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil

    No início do século XX, uma doença chegou ao Brasil a bordo de navios vindos da Europa. A gripe espanhola, como ficou conhecida a explosão pandêmica de uma mutação particularmente letal do vírus H1N1, matou dezenas de milhares de pessoas no país e cerca de 50 milhões no mundo inteiro.
    Altamente contagiosa, a moléstia atingiu todas as regiões brasileiras. A “influenza hespanhola” paralisou a economia e desnudou a precariedade dos serviços de saúde. Disputas políticas e atitudes negacionistas de médicos e governantes potencializaram o massacre, que vitimou sobretudo os pobres. Iludida por estatísticas maquiadas e falsas curas milagrosas, a população ficou à mercê do vírus até o súbito declínio da epidemia, no começo de 1919.

    A partir de um vasto acervo de fontes e imagens da época, Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling recriam o cotidiano da vida e da morte durante o reinado de terror da “gripe bailarina”, uma das maiores pandemias da história. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital

    Em A máquina do ódio, Patrícia Campos Mello discute de que forma as redes sociais vêm sendo manipuladas por líderes populistas e como as campanhas de difamação funcionam qual uma censura, agora terceirizada para exércitos de trolls patrióticos repercutidos por robôs no Twitter, Facebook, Instagram e WhatsApp ― investidas que têm nas jornalistas mulheres suas vítimas preferenciais. Os bastidores de reportagens da jornalista e os ataques de que foi vítima servem de moldura para um quadro mais amplo sobre a liberdade de imprensa no Brasil e no mundo, numa prosa ao mesmo tempo pessoal e objetiva.

    Campos Mello acompanhou a utilização crescente das redes sociais nas eleições internacionais que cobriu: nos Estados Unidos, em 2008, 2012 e 2016; na Índia, em 2014 e 2019. À experiência de observadora do avanço dos tecnopopulistas e seu “manual para acabar com a mídia crítica”, somou-se a de protagonista involuntária no front de uma guerra contra a verdade. Relato envolvente de um dos capítulos mais turbulentos de nossa história recente, A máquina do ódio é também um manifesto em defesa da informação. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro

    A república das milícias, do jornalista Bruno Paes Manso, se constrói a partir de depoimentos de protagonistas dessa batalha. São entrevistas que chocam pela franqueza e riqueza de detalhes, em que assassinatos se sucedem e as ligações entre policiais, o tráfico, o jogo do bicho e o poder público se mostram de forma inequívoca. Num cenário em que o Estado é ausente e as carências se multiplicam, a violência se propaga de forma endêmica, mas deixa no ar a questão: qual a alternativa? A resposta está longe de ser simples. Sobretudo num país de urbanização descontrolada e cultura política permeável ao autoritarismo.

    Dos esquadrões da morte formados nos anos 1960 ao domínio do tráfico nos anos 1980 e 1990, dos porões da ditadura militar às máfias de caça-níquel, da ascensão do modelo de negócios miliciano ao assassinato de Marielle Franco, este livro joga luz sobre uma face sombria da experiência nacional que passou ao centro do palco com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2018. Mistura rara de reportagem de altíssima voltagem com olhar analítico e historiográfico, A república das milícias expõe de forma corajosa e pioneira uma ferida profundamente enraizada na sociedade brasileira. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    A unicórnia preta

    Publicado em 1978, A unicórnia preta (The Black Unicorn) é considerado um marco na trajetória poética da ativista e poeta norte-americana Audre Lorde. Seus poemas abordam questões da negritude, do feminismo e da experiência lésbica, além de explorar elementos da cultura Iorubá e dialogar com entidades africanas, dando suporte ao que Lorde chama de “experiência arquetípica das mulheres negras”. Inspirados pelas viagens da poeta ao Togo, Gana e então Daomé (atual Benim), os versos demonstram a riqueza e a complexidade de uma mulher negra na diáspora, uma ativista em Nova York que encontra na África imagens de poder que a regeneram.

    O livro conta com tradução de Stephanie Borges, revisão técnica de Mariana Ruggieri, texto de orelha de Lívia Natália e prefácio da pesquisadora Jess Oliveira. O livro é bilíngue e traz ainda um glossário dos termos de origem africana presentes na edição, um apanhado das obras de e sobre Audre Lorde publicadas no Brasil e no exterior e uma detalhada nota biográfica da autora. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Autobiografia precoce

    Escrito em 1940, após uma das 23 vezes que Pagu sai da prisão, Autobiografia precoce fala sobre a militância política, os filhos, os relacionamentos e várias outras camadas da vida de uma das mulheres mais emblemáticas do Brasil. O texto mostra Pagu sem subterfúgios, de forma sincera e corajosa. Do lado pessoal, ela relata sua iniciação sexual precoce e o conturbado casamento com Oswald de Andrade; da vida pública, ela conta sobre a militância no Partido Comunista e o desencanto com o regime soviético.

    Patrícia Galvão quase sempre foi vista pela lente masculina: seja por seus relacionamentos ou por como sua arte se comparava à de homens da época. Em Autobiografia precoce, não existem intermediários: temos acesso a uma Pagu que escreve sobre si. Um livro essencial para se compreender uma das personagens mais intrigantes da história brasileira. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    A vida não é útil

    Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.

    Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.

    Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os “paraquedas coloridos” descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Canções de atormentar

    Oito anos depois da publicação do já célebre Um útero é do tamanho de um punho ― lançado em 2012 pela Cosac Naify e reeditado em 2017 pela Companhia das Letras ―, Canções de atormentar traz o olhar afiado de uma poeta que, com inteligência e ironia, observa a si e ao mundo. Os poemas rememoram a infância no Sul, com o pé de araçá plantado pela avó, relatam o esforço inútil de tentar compreender o Brasil de hoje e discutem a injustiça, o machismo e a nostalgia de uma nação que não passou de projeto.

    Em “porto alegre, 2016”, que trata da migração e dos protestos nas ruas, violentamente refreados pela ordem pública, a poeta escreve: “agora a colher cai da boca/ e o barulho de bomba é ali fora/ e a polícia vai pra cima dos teus afetos/ munida de espadas, sobre cavalos”. Canções de atormentar reúne poemas ora ferozes, ora desiludidos, sem nunca perder de vista a urgência, a vivacidade, o humor e o tom incisivo que consagraram Angélica como um dos nomes mais originais da literatura contemporânea. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno

    O livro reúne oito conferências em que o antropólogo e filósofo Bruno Latour invoca a noção de Gaia para refletir sobre a catástrofe ecológica contemporânea. Reexaminando a “hipótese de Gaia”, estabelecida por James Lovelock na década de 1970, Latour argumenta que Gaia é, antes de tudo, um conceito que possibilita pensar em soluções para os problemas ecológicos sem a dicotomia entre natureza e cultura. Os sete primeiros capítulos apresentam Gaia teoricamente, e são fruto de palestras realizadas pelo autor em Gifford (Edimburgo, 2013). O oitavo imagina uma cúpula do clima que coloca as proposições teóricas em prática. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Diário da catástrofe brasileira: Ano I – O inimaginável foi eleito

    O leitor encontrará aqui uma análise reveladora do material de campanha que circulou ainda antes de 2018 e que até agora não foi bem avaliado. Da mesma maneira, tanto a Operação Lava Jato quanto seu principal condutor, o ex-ministro Sérgio Moro, são vistos de forma original e surpreendente. O texto alterna momentos de assombro, outros de indignação, sem perder em nenhum momento a coerência e a necessidade (que ele parece entender como uma obrigação) de achar sentido para o sucesso daquele que foi, nas palavras de Lísias, ”o pior candidato da história eleitoral brasileira“.

    Não há nenhuma condescendência: se sobram muitas críticas à imprensa, por exemplo, Lísias avalia seu próprio comportamento, e o de seu meio, ao mesmo tempo em que desenvolve hipóteses sobre arte, sociedade e cultura. As páginas do Diário da catástrofe brasileira se desenvolvem sem que as principais conjunções adversativas sejam usadas. Para o autor, definitivamente, passou da hora do mas, porém, todavia, no entanto e contudo. E este é só um exemplo da originalidade deste livro às vezes assustador, outras, engraçado, e sempre ousado e esclarecedor.” + COMPRE SEU EXEMPLAR

    E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas

    Uma menina tem medo da escuridão. Quando chega a noite, vem a preocupação e a ansiedade: afinal, o que o escuro pode esconder? O que ela nem imagina é que, do outro lado, a escuridão também é uma menina ― cujo maior medo é a claridade, e todo tipo de coisa que se revela quando nasce o sol.

    Em seu segundo livro, Emicida faz uso da narrativa poética e ritmada que encantou os leitores em Amoras, dessa vez para explorar um tema que nos acompanha durante toda a vida: o medo do desconhecido. Ao longo dessas páginas, ilustradas por Aldo Fabrini, as duas meninas vão descobrir que enfrentar os próprios medos pode ― quem diria? ―, nos transformar por dentro e por fora. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Garota, mulher, outras

    Garota, mulher, outras é um verdadeiro marco da ficção britânica. O romance de Bernardine Evaristo causou furor quando publicado: venceu o Booker Prize em 2019, foi aclamado por nomes como Barack Obama, Roxane Gay, Ali Smith e Tom Stoppard e incluído nas listas de melhores livros do ano por veículos como The Guardian, Time, The Washington Post e The New Yorker. A forma, por si só, não é nada convencional: trata-se de um gênero híbrido, composto de versos livres e sem pontos-finais. O resultado é uma dicção singular e envolvente, que prende o leitor da primeira à última página.

    O pano de fundo dessas histórias é uma Londres dividida e hostil, logo após a votação do Brexit: um lugar onde as pessoas lutam para sobreviver, muitas vezes sem esperança, sem que as suas necessidades sejam atendidas e sem que sejam ouvidas. Nesse ambiente opressor, as vozes de Garota, mulher, outras formam um coro e levantam reflexões poderosas sobre o machismo, o racismo e a estrutura da sociedade. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis (nova edição)

    Talvez você já tenha ouvido falar de Dandara e Carolina Maria de Jesus. Mas e Eva Maria do Bonsucesso? Luisa Mahin? Na Agontimé? Tia Ciata? Essas (e tantas outras) mulheres negras foram verdadeiras heroínas brasileiras, mas pouco se fala delas, seja na escola ou nos meios de comunicação. Diante desse apagamento, há anos a escritora Jarid Arraes tem se dedicado a recuperar ― e recontar ― suas histórias.

    O resultado é uma coleção de cordéis que resgata a memória dessas personagens, que lutaram pela sua liberdade e seus direitos, reivindicaram seu espaço na política e nas artes, levantaram sua voz contra a injustiça e a opressão. A multiplicidade de histórias revela as mais diversas estratégias de sobrevivência e resistência, seja na linha de frente ― como Tereza de Benguela, que liderou o quilombo de Quariterê ― ou pelas brechas ― como a quituteira Luisa Mahin, que transmitia bilhetes secretos durante a Revolta dos Malês.

    Este livro, em nova edição, reúne quinze dessas histórias impressionantes, ilustradas por Gabriela Pires. Agora, cabe a você conhecê-las, espalhá-las, celebrá-las. Para que as próximas gerações possam crescer com seu próprio panteão de heroínas negras brasileiras. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Minha sombria Vanessa

    Em 2000, Vanessa Wye é uma estudante solitária de ensino médio. Talentosa e com o sonho de ser escritora, Vanessa diz não se importar de ficar sozinha, principalmente quando seu professor de inglês, Jacob Strane, um homem de 42 anos, começa a prestar atenção nela, elogiando seu cabelo, suas roupas e lhe emprestando alguns de seus livros favoritos ― como Lolita, de Nabokov. Antes que Vanessa perceba, os dois embarcam em uma relação e a jovem acredita que o professor a ama e a considera especial.

    Mais de uma década depois, uma ex-aluna acusa Strane de abuso sexual, e Vanessa começa a questionar se o que viveu foi realmente uma história de amor ou se não teria sido ela também uma vítima de estupro. Mesmo depois de tantos anos, Strane ainda é uma presença constante em sua vida. Como ela seria capaz de rejeitar o que considera seu primeiro amor?

    Alternando entre presente e passado, o livro justapõe memória e trauma ao entusiasmo de uma adolescente descobrindo o poder do próprio corpo. Instigante e impossível de largar, o livro retrata com maestria a adolescência conturbada e suas consequências, para refletir acerca de liberdade, consentimento e abuso. Escrito com intimidade e intensidade assustadoras, Minha sombria Vanessa capta brilhantemente os costumes culturais em transformação que guiam nossos relacionamentos e a própria sociedade. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    O que ela sussura

    Neste romance envolvente e poético, Noemi Jaffe conta, com suas próprias palavras e invenções, a vida de Nadejda Mandelstam. Vivendo sob a opressão stalinista, Nadejda se casa com o poeta Óssip, que falecerá em um gulag na Sibéria como inimigo do regime. Contudo, para que os poemas que levaram o marido à desgraça não desapareçam, Nadejda os memoriza e os sussurra sempre. Serão essas versões que chegarão à contemporaneidade.

    Baseando-se nessa história real, Noemi Jaffe, um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea, constrói um romance único sobre o poder do amor, as agruras da repressão e, sobretudo, sobre o desejo feminino e seu constante apagamento. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    O avesso da pele

    O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.

    O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e de lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Pacientes que curam

    Os textos de Pacientes que curam apresentam o que Julia – uma mulher negra, médica de família e comunidade, mãe e cantora – vivenciou no plantão no hospital, em seu consultório na Unidade Básica de Saúde, na UPA ou em visita a pacientes em casa. E, ao fazer isso, traçam um retrato de um Brasil periférico, que vive mal desde sempre. Ao mesmo tempo, revelam o que há de universal, de sensível, no humano.

    No livro, vemos como saúde é muito mais do que não estar doente: é ter garantido o direito ao trabalho, à moradia, à alimentação, à educação, ao lazer e aos demais componentes do Estado de bem-estar social. Mas como proporcionar direitos às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social? Como fazer cumprir os artigos da Constituição que estabelecem acesso universal e igualitário à saúde? + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Pele negra, máscaras brancas

    Primeiro livro de Frantz Fanon, “Pele negra, máscaras brancas” é um dos textos mais influentes dos movimentos de luta antirracista desde sua publicação, em 1952. Logo de início, se apresenta como uma interpretação psicanalítica da questão negra, tendo como motivação explícita desalienar pessoas negras do complexo de inferioridade que a sociedade branca lhes incute desde a infância. Assim, descortina os mecanismos pelos quais a sociedade colonialista instaura, para além da disparidade econômica e social, a interiorização de uma inferioridade associada à cor da pele – o que o autor chama de “epidermização da inferioridade”.

    Um dos principais efeitos da leitura da obra – diz o professor e pesquisador Deivison Faustino no posfácio a esta edição – é fazer leitores e leitoras se descobrirem, seja em sua vulnerabilidade e desamparo, seja angustiados sob a consciência de seus pecados, ou ainda como demônios que impõem sofrimento e dominação a outros, mesmo que a princípio se vejam como anjos. Em um momento de ampliação da luta antirracista e conscientização e incorporação de brancas e brancos a essa luta, este livro continua sendo transformador, em busca de uma sociedade realmente livre e igualitária.

    A edição da Ubu conta com prefácio de Grada Kilomba e posfácio do especialista em Fanon Deivison Faustino. Textos escritos especialmente para a edição da Ubu. O livro traz ainda textos do intelectual e ativista Francis Jeanson e do historiador Paul Gilroy. Tradução de Sebastião Nascimento, com colaboração de Raquel Camargo. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Por um feminismo afro-latino-americano

    “Leiam Lélia Gonzalez!”, convocou a filósofa americana Angela Davis em recente passagem pelo país.

    Filósofa, antropóloga, professora, escritora, militante do movimento negro e feminista precursora, Lélia Gonzalez foi uma das mais importantes intelectuais brasileiras do século XX, com atuação decisiva na luta contra o racismo estrutural e na articulação das relações entre gênero e raça em nossa sociedade.

    Com organização de Flavia Rios e Márcia Lima, Por um feminismo afro-latino-americano reúne em um só volume um panorama amplo da obra desta pensadora tão múltipla quanto engajada. São textos produzidos durante um período efervescente que compreende quase duas décadas de história ― de 1979 a 1994 ― e que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe. Além dos ensaios já consagrados, fazem parte desse legado artigos de Lélia que saíram na imprensa, entrevistas antológicas, traduções inéditas e escritos dispersos, como a carta endereçada a Chacrinha, o Velho Guerreiro. O livro traz ainda uma introdução crítica e cronologia de vida e obra da autora.

    Irreverente, interseccional, decolonial, polifônica, erudita e ao mesmo tempo popular, Lélia Gonzalez transitava da filosofia às ciências sociais, da psicanálise ao samba e aos terreiros de candomblé. Deu voz ao pretuguês, cunhou a categoria de amefricanidade, universalizou-se. Tornou-se um ícone para o feminismo negro. Axé, Lélia Gonzalez! + COMPRE SEU EXEMPLAR

    Suíte Tóquio

    É uma manhã qualquer quando Maju atravessa a praça ao lado de Cora. Puxando a garota pelo braço, ela passa sorrateiramente pelo exército branco, sobe a avenida, pega um ônibus e desaparece. Exército branco foi o nome que Fernanda, mãe de Cora, deu às babás que todos os dias lotam a praça daquele bairro de classe alta com as crianças de seus patrões. Nos últimos tempos, no entanto, a babá e a filha parecem tão anônimas para Fernanda quanto as outras. Afundada numa crise pessoal, ela demora a perceber que Maju e Cora sumiram sem dar notícias.

    Ao longo do dia, tudo vai desabando. De um lado, Fernanda lida com o fracasso de seu casamento. Apaixonada por uma diretora com quem trabalhou num projeto cinematográfico, ela deixa a relação com o marido definhar. Quer distância de Cacá, mas conforme os primeiros telefonemas aflitos para a babá vão se transformando em desespero, se vê de novo afundando naquele universo. Enquanto isso, Maju vai até a rodoviária e desaparece num ônibus com Cora. Em meio a motéis imundos e paradas insólitas, põe em ação seu plano, que imediatamente sai do controle.

    Neste romance pé na estrada, Giovana Madalosso coloca para girar, com força e fluidez, a vida dessas personagens que parecem eternamente em busca ― de ternura, redenção, sexo, qualquer coisa que possa movê-las de onde estão. O sequestro de Cora abala as engrenagens do passado e do presente, do desejo e do ressentimento, e a procura desesperada que se segue é também um doloroso acerto de contas com a vida e as expectativas que construímos. Suíte Tóquio é um romance vertiginoso e tragicômico que fala daquele lugar tênue entre o que as pessoas querem ser e o que de fato são. + COMPRE SEU EXEMPLAR

    E aí, quais os melhores livros de 2020 na sua opinião? Quero saber!


    Leia mais >> Os meus cinco contos favoritos de 2020

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