1001 Fantasma é uma novela que faz parte do livro A mulher da gargantilha de veludo e outras histórias.

    1001 Fantasmas, de Alexandre Dumas (pai), foi uma leitura surpreendente para mim. Acostumada com o Alexandre Dumas de romances de “capa e espada” como Os Três Mosqueteiros, de “personagens épicos” como O Conde de Monte Cristo e A Rainha Margot, ler histórias de terror escritas pelas mesmas mãos foi esquisito por muitos motivos.

    Ler todas as páginas de 1001 Fantasmas pode causar estranhamento, como se alguém que já se conhecesse estivesse revelando um “outro lado”. Tanto que, no meio do livro, tive que voltar e começar a lê-lo do início, porque Dumas estava me deixando confusa. Ele narra a história em primeira pessoa e por vezes me passava a sensação de que não acreditava em nada daquilo, que estava pagando para ver; em outras me passava convicção. E eu ficava perguntando: “É isso mesmo, Dumas? Vamos voltar um pouco aqui”, “Como Poe diria isso?”, “Vai deixar para o próximo capítulo? Isso é coisa que se faça com o pobre do leitor que prometeu só ler mais este e ir dormir?”

    1001 fantasmas por quê?

    O título 1001 Fantasmas faz referência ao romance 1001 Noites, do qual o autor era um fã declarado e foi uma homenagem a esta sua obra favorita, da qual utilizou também a mesma forma de narrativa de folhetim. Assim, escrito no período da Revolução Francesa, quando a guilhotina “comia solta”, o mistério da história gira em torno da discussão sobre a possibilidade de, mesmo após decapitadas, as cabeças dos mortos poderem falar e sentir por algum tempo.

    Dumas usa esta teoria mórbida para se posicionar criticamente frente a pena de morte adotada pelo governo francês, caracterizando-a como extremamente cruel diante desta possibilidade. Entretanto, coisa com a qual alguns dos seus contemporâneos não concordavam, afinal o povo estava acostumado com muito mais sangue e dor e por isso, muitos achavam a guilhotina “uma decepção”, mas por ser muito rápida.

    O enredo da obra

    A história começa com a cena de um crime, em que o assassino confesso está apavorado por ter sido “atacado” pela cabeça da vítima. Em seguida, na casa do prefeito da cidade, um grupo de pessoas, dentre elas homens das ciências, das artes, religiosos e uma única dama misteriosa, começam a debater o ocorrido de acordo com seus pontos de vista e a contar histórias que viveram ou ouviram, na tentativa de chegarem a alguma conclusão sobre a morte por decapitação não se dar de imediato. É neste clima quase “acadêmico” que segue a discussão e o livro, sem deixar claro se o que está sendo narrado é de confiança e se os presentes acreditam ou não nas histórias uns dos outros.

    Por fim, o final da trama serve como uma espécie de “tira-teima” para acabar com esta confusão entre o ceticismo e o fantástico e se havia dúvida até então sobre o teor da obra, ela termina deliciosamente gótica, dá até para sentir as luzes do salão se apagando e os personagens mergulhando nas trevas de suas reflexões. E depois de muito me inquietar com a dúvida de que aquele tipo de narrativa não funcionaria para o gênero de terror, terminei de ler sorrindo e pensando: foi uma leitura incrível!

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