Clarice Lispector é uma escritora múltipla, complexa e simples, ao ponto de algumas de suas frases se transformarem em verdades juvenis, espalhadas de todas as formas pelas redes sociais. Sendo assim, e mais outros motivos além, claro, Clarice Lispector é uma fonte riquíssima de estudo literário e, com o livro “Clarice Lispector – Pinturas” descobri que é possível estudar Clarice por meio de pinturas que enfeitaram as casas em que ela viveu, e o mais interessante de tudo: as obras de arte que ela mesma pintou.

    Carlos Mendes de Sousa, um dos importantes nomes da crítica literária portuguesa, traz ao leitor clariceano a história de Clarice com os quadros, desde às fotos da imprensa às obras que ela produziu, intercalando aspectos importantes da vida e da obra dessa grande escritora. É um livro delicioso, daqueles que cada página constrói suave e fortemente a lembrança de um dos maiores nomes da literatura brasileira.

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    Interessante os detalhes que nunca percebi, como os quadros que são tão frequentes nas fotos de Clarice Lispector. O autor chega a comentar que, diferente dos escritores tradicionais, que adoram o fundo de uma foto repleto de livros, Clarice foi inúmeras vezes retratada próxima aos quadros.

    Alguns amigos de Clarice, artistas plásticos, fizeram retratos dela. Houve os que acharam simples desenhar os contornos do rosto e outro que revelaram as dificuldades. E ela, tão atenta, aplicou essa forma de ver a arte em sua escrita também, nos personagens que, conforme os exemplos citados no livro, fizeram Clarice pensar sobre a arte de pintar: “Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo” (Clarice no Jornal do Brasil, 1967).

    E um outro lado surge no livro devagar. Sem perceber, estamos mergulhados não mais na escritora, mas sim na artista plástica Clarice Lispector. Seus quadros, despretensiosos, sem nenhuma técnica, era onde ela buscava a paz:

    (…) escrever não me trouxe o que eu queria, isto é, paz. Minha literatura, não sendo de forma alguma uma catarse que me faria bem, não me serve como meio de libertação (…). De nada sei (…) o que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar, e não ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. (…) É a coisa mais pura que faço.”

    (p. 140)

    A leitura foi como uma libertação, pois ao descobrir um outro lado de Clarice Lispector, mergulhei novamente no misterioso mundo dessa mulher tão singular. O livro, bonito, bem organizado, prático é um excelente novo cardápio para os devoradores da arte de Clarice Lispector.

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