A releitura de Abril Despedaçado foi árdua, a obra em si tem poucas páginas, mas o clima de tensão permeia por toda a narrativa.

    Primeiramente, gostaria de informar que o texto abaixo não é uma resenha ou resumo, é apenas um relato, ainda que singelo, da minha experiência de leitura com Abril Despedaçado.

    Desenvolvi um relacionamento de amor e ódio com Abril Despedaçado, de Ismail Kadaré. Lembro que peguei o livro na biblioteca da faculdade e acabei devolvendo por não conseguir tempo para lê-lo. Cerca de um mês depois, loquei-o novamente e comecei a leitura, que demorou a engrenar devido à minha falta de tempo. Quando finalmente terminei de ler, senti que um pedaço de mim tinha ficado preso em meio às páginas do livro e decidi lê-lo novamente.

    A releitura de Abril Despedaçado foi árdua, a obra em si tem poucas páginas, mas o clima de tensão permeia por toda a narrativa. Em vários momentos abandonei a releitura e até cheguei a devolver o livro na biblioteca, o problema é que não conseguia me afastar, o texto me seduzia e loquei-o novamente várias vezes, para em seguida abandoná-lo e ter o prazer te tê-lo comigo novamente.

    Essa relação me lembrou muito o conto Felicidade Clandestina, da Clarice Lispector, no qual a protagonista se deslumbra com o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato e passa a viver com o mesmo uma relação afetuosa.

    Sobre o autor

    Ismail Kadaré é um escritor albanês, cujas obras são publicadas no Brasil pela Cia das Letras. Atualmente, são poucos os livros que realmente me tocam, que deixam minhas emoções à flor da pele e que ficam na minha mente por dias a fio. Abril Despedaçado, com sua linguagem simples e poucas páginas, possui uma prosa arrebatadora que conseguiu me fisgar sem o menor esforço tornando-se um dos melhores livros que li na vida.

    Um pouco do enredo

    A narrativa se passa no Norte da Albânia, na região do Rrafsh, onde Gjorg, um jovem montanhês precisa pagar uma dívida de sangue para limpar o nome de seu falecido irmão, e honrar o Kanun – um conjunto de leis não escritas que rege a vida dos montanheses, fazendo com que estes passem gerações em intermináveis rituais de vingança, pagando dívidas de sangue, matando uns aos outros.

    Paralelamente, Kadaré conta a história de Bessian e Diana, um casal que vai até o Rrafsh passar a Lua de Mel e que assim como Gjorg, têm suas vidas devastadas pelo Kanun e seu mar de sangue. Não vou me estender tanto nos detalhes, afinal, é um livro escrito para ser degustado, e espero ter despertado em vocês a ânsia de devorá-lo. E no final de tudo, como no conto de Clarisse, eu já não era uma menina com um livro, era uma mulher com seu amante.

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