No livro Jonathan Strange & Mr. Norrell (Susanna Clarke), os personagens possuem uma vivacidade tão grande que as normas sociais vieram atreladas, ainda mais as normas da alta sociedade londrina da época: os fuxicos, panelas, uma verdadeira Jane Austen dos magos.

    Jonathan Strange & Mr. Norrell (Susanna Clarke) se encaixa em uma situação de extrema maldição. Desde a primeira vez que o vi, sonhei e sonhei com o livro (literalmente) até que consegui comprá-lo. Num desses sonhos até transformei a Arena Olímpica da cidade numa imensa livraria, onde, por uma espécie de preço, eu esqueci todos os livros que queria comprar, uma maldição dos jogadores da cidade.

    O livro possui 817 páginas (e ao conferir o número, li acidentalmente a última frase, que diz que um certo alguém se virou para as sombras e sumiu) e é dividido em três volumes com nomes de personagens: Mr. Norell (página 11), Jonathan Strange (página 221), John Uskglass (página 519), e cada post aqui do blog corresponderá a um volume.

    Com tamanha apreensão pelo livro, eu esperava que o livro me tratasse com dignidade correspondendo certa parte de minhas expectativas. E falando em Grandes Expectativas, Jonathan Strange & Mr. Norrell me lembrou muito a escrita e o clima de Charles Dickens, que é o autor que eu espero um dia ser? Não me importo dele ser modinha no passado, etc. Dickens é mestre em tocar na ferida.

    Uma verdadeira Jane Austen dos magos

    Mesmo Jonathan Strange & Mr. Norrell sendo um livro cujo assunto principal seja a magia, os personagens possuem uma vivacidade tão grande que as normas sociais vieram atreladas, ainda mais as normas da alta sociedade londrina da época: os fuxicos, panelas, uma verdadeira Jane Austen dos magos. Se eu achei o livro um caleidoscópio britânico? Com toda certa! E é algo de grande júbilo, a obra superou de longe minhas expectativas!

    A respeito da história. O início me lembrou bastante as reuniões de Mr. Pickwick (Dickens): vários estudiosos da magia, mas não praticantes, realizavam burocráticos debates a respeito da história da magia. Até que um deles teve a ideia de passar a praticar a magia, e não apenas estudar sua história. A incisiva solicitação ao grupo os levou a ser alvos de olhares tortos, mas sendo pioneiro na ideia, assim como a maioria dos pioneiros, não desistiu até se ver totalmente frustrado ou em grande sucesso. Foi atrás dum suposto e recluso mago praticante da magia: Mr. Norrell. O distinto cavaleiro morava em outro condado, ao qual o personagem pioneiro se dirigiu.

    Cenas inusitadas

    Uma das cenas mais inusitadas (entre inúmeras outras) é que o Pioneiro diz sempre saber onde estão situados os pontos cardinais, independente de onde ele estiver, em casa, num campo, na rua, etc. Mas na casa de Mr. Norrell ele perdeu esse sentido. E ao caminharem em direção à biblioteca, foi como se eles estivessem indo em direção a um quinto e inexistente ponto. Sobre Mr. Norrell. Pra não ficar me delongando muito, Mr. Norell é um Sheldon (personagem da série The Big Ben Theory) que não conversa muito. É a soberba em pessoa, e como a maioria das pessoas soberbas, não se dava conta disso, e achava um disparate imenso quando achavam o contrário ou atribuíam semelhante status a outra pessoa.

    Uma história sobre a prática de magia

    Para provar que praticava magia, Mr. Norrell fez um pacto com o Clube de Estudantes da Magia do Condado de York que caso ele fizesse uma demonstração de magia, todos os infelizes estudantes nunca mais poderiam tocar um dedo em um livro de magia: fossem estes os inúteis livros que eles tanto prezavam, ou os livros eficientes que Mr. Norell tinha em sua biblioteca que ficava no quinto ponto da Bússola.

    Após destruir mais um grupo de estudantes de magia, Mr. Norrell decide partir para Londres e mostrar ao mundo que a magia ainda existe, e que não está restrita apenas a livros errôneos que tratam da história desta. O problema é que… Imagina o personagem Sheldon (The Big Bang Theory) tentando convencer alguém a respeito de determinado assunto. Mr. Norell não tinha tato algum e nenhuma ideia ou vontade de aprender a ter. Daí aparece um personagem muito bem construído: Drawlight. Ele pode ser descrito como um indivíduo pobre, que mora numa espelunca, mas que vive praticamente na casa de famílias ricas, sendo usada como um mexeriqueiro alfa, ou um conselheiro que vive como um ser mutualístico com as madames da alta sociedade de Londres.

    Visto que o maior talento de Mr. Drawlight é conhecer as pessoas e apresentá-la a outras e depois falar de suas vidas a terceiros, melhor pessoa não havia para ser o porta voz de Mr. Norrell. Antes de conhecê-lo, Mr. Norell apenas lia nas inúmeras festas em que era convidado. Mas como ninguém o conhecia e ele não sabia como se devia apresentar diante tamanha multidão de bêbados, ficava julgando bibliotecas alheias durante as festas.

    Depois da fusão com Mr. Drawlight, que ignorava quaisquer desavenças que Mr. Norell lhe disparava, o futuro do mago passou a ser mais promissor. Mas o que Mr. Norrell queria era ajudar a Inglaterra na guerra contra Napoleão Bonaparte. A oportunidade surge quando Norell descobre o nome de Sir Walter Pole, um recém ingressado Ministro à beira de uma falência. Norell vai à casa de Mrs. Pole, não a noiva de Sir Walter, mas a mãe de sua futura noiva: Miss Pole. Para a tristeza de Norrell, Mrs. Pole odiava magia, já que quando criança teve um mago agregado da família, que, em posse da mente da pobre madrasta, mandava e desmandava na casa, dizendo o que era ou não bom para os pequenos, o que incluía Mrs. Pole. Norrell, em desvantagem se viu obrigado a ir embora.

    Dias depois, Mr. Drawlight abre a porta da casa de Norell dizendo portar boas notícias! Apesar de ser um imenso adorador de Mr. Norrell, as boas notícias realmente o eram, e não um mero joguinho para alegrar o humor de Norrell. A futura esposa de Sir Walter Pole, que, com o casamento o salvaria da falência, havia morrido um dia antes do casamento. Esse discurso deixou nas entrelinhas que Mr. Norrell deveria ressuscitar a noiva e assim provar que era um praticante da magia para toda Londres. Caso isso fosse feito, Mr. Norrell teria o poder que quisesse para liderar a guerra contra os franceses.

    Na mesma madrugada chuvosa Norrell e Drawlight foram à casa de Mrs. Pole para ressuscitar a filha. Mrs. Pole dizia ter muita fé em Norrell, pois quando criança, havia um mago amigo da família que ela adorava, e sempre salvava e divertia as crianças (sim, as personagens do livro, quando não estão sendo coerentes, estão fazendo inacreditáveis e bizarros discursos). Em Londres, ninguém ainda havia visto a mágia de Mr. Norrell, de forma que a primeira aparição desta seria fenomenal. Na casa, criados andavam correndo de um lado para outro sob as penumbras dos lampiões. Mr Norrell subiu sozinho ao quarto onde estava o corpo de Miss Pole e lá começou o feitiço.

    O feitiço consistia na invocação de um ser muito poderoso, que se mostrou ser um cavalheiro de pele muito branca assim como seus cabelos de algodões trajando um casaco verde, que será como o livro o descreve e chama a partir do momento. A primeira proposta que fez a Norrell foi que este se deixasse aprender do infinito conhecimento que o cavalheiro do casaco verde possuía. Mr. Norrell em toda sua arrogância, recusou. Ao que o cavaleiro respondeu que tentaria o segundo mago existente naquela era, o que deixou Mr. Norell muito furioso, porque sabia que só havia ele, em todo reino como mago.

    O trato que fizeram foi que o cavalheiro teria metade da vida de Miss Pole ( metade de 70 anos, pois Miss Pole beirava aos vinte, e supuseram que esta vivesse até os 90) e que pudesse pegar um presente da jovem dama como uma espécie de hipoteca. Não, o cavalheiro de casaco verde e cabelos algodoados não queria nenhuma joia com que ela seria enterrada, antes disso, queria algo mais valioso. Ao retornar à vida, tanto Mr. Norell quanto o restante da casa ficaram assombrados pelo modo como Miss Pole voltou à vida.

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