A história de Helena Terra não é inovadora, pois a literatura tem vários exemplos de histórias de amor que não acabaram bem. O diferencial é a poesia disfarçada de prosa.

    Gosto muito da literatura contemporânea. Todo mês me presenteio com um livro de algum escritor estreante. Penso que essa mania se justifique por eu também ser uma escritora estreante, com um livro lançado há pouco tempo.

    Esse mês a Dublinense me enviou o livro A condição indestrutível de ter sido, livro de estreia de Helena Terra.

    O título do livro, por si só, já é uma oração completa. O texto da orelha, escrito por Gustavo Melo Czekster afirma que o livro desmistifica o romantismo e mostra que amar é um mergulho na instabilidade, um fogo que arde até nos destruir. A epígrafe, “Pelas tuas mãos medi o mundo”, uma frase de Sophia de Mello Breyner Andresen é sensacional.

    As expectativas geradas pelo título, orelha e epígrafe foram grandes e só alimentaram minha curiosidade e ansiedade em devorar o texto.

    O estilo da narrativa de Helena Terra

    A narrativa é densa, crua e doída, como se a autora pegasse uma faca e cravasse na ferida. As oitenta páginas do livro parecem oitocentas, sem exagero. É o tipo de leitura que consome, faz com que o leitor entre em um estado de cansaço e dependência.

    A trama gira em torno da narradora, uma mulher sem nome, com paixão pela palavra, que troca e-mails com Mauro, um homem que conheceu através da internet. Mauro, com o apelido de Mau, se torna a personificação do bem para a narradora. Seus e-mails são como uma droga que a entorpecem.

    Mauro conjugou-me em todos os tempos, dilatando-me entre os poros e os pronomes pessoais. Depois que eu disse sim, seja bem-vindo, venha escrever, ele foi se misturando e misturando comigo até eu deixar de me pensar como sendo uma primeira pessoa no singular para me entender como se estivesse em uma segunda ou em uma terceira, como se estivesse na carne e no coração dele e pudesse retirá-lo de todo o mal no mundo

    pág. 16

    A narradora mostra desde o começo a sofreguidão que é viver esse relacionamento.

    O desfecho da trama se mostra óbvio a partir das primeiras páginas, mas é essa mesma obviedade que leva o leitor adiante. O leitor precisa sofrer com a narradora, sentir suas dores, sua entrega desmedida.

    A poesia disfarçada de prosa

    A condição indestrutível de ter sido, mostra um amor à distância, com um quê de platônico, mas mesmo assim destrutivo. A narradora é mero objeto de distração nas mãos de Mauro, que sequer a chama pelo nome, é como se não fosse digna de afeto.

    A história não é inovadora, a literatura tem vários exemplos de histórias de amor que não acabaram bem. O diferencial é a poesia disfarçada de prosa que Helena usa, mostrando o lado doentio e dilacerante do amor, mostrando que o que fica quando tudo acaba é a indestrutível condição de ter sido por alguém um amor perdido. Afinal, em que momentos, por amor, deixamos de ser nós mesmos e passamos a inteirar o outro?

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