Em seus contos de A Era do Jazz, F. Scott Fitzgerald sempre conversa um pouco com o leitor, quase perguntando como você está nessa tarde antes de começar a contar a história que realmente importa. Depois de “cumprimentar” os leitores, nos conta o que está havendo na sociedade: um término de casal, uma jovem ruiva passeando pelas livrarias, uma festa à fantasia, um casal com problemas, e até uma criança que já nasceu velha.

    “Tinha justamente esses traços que fazem a gente pensar em beijos – essa espécie de traços que a gente julga pertenciam ao nosso primeiro amor, mas, ao deparar com uma velha fotografia, vê que estava enganado.”

    Posso dizer que gostei de todos os contos. Mas, claro, para o livro se tornar tão especial, ele tem que ter algo que toque seu coração, além de seu intelecto. O primeiro que se destacou foi O Boa-Vida, mas o que são boas-vidas?

    “Boas vidas é como são conhecidos, em toda a indivisa Confederação, todos aqueles que passam a vida a conjugar o verbo vadiar na primeira pessoa do singular: eu estou vadiando, eu vadiei, eu vadiarei”

    Quase um conto para se ler em um domingo à tarde e deixar se entreter com aquela vida boa. Em sequencia temos O Curioso Caso de Benjamin Button, que, ao descrever aquele filho estranho vemos o preconceito de toda uma sociedade contra um amor de pai, a inocência da criança em corpo de velho. O conto todo se baseia em contradições, que todos nós temos, mas em uma criança jovem/velha fica evidente para o leitor.

    O terceiro conto é O Resíduo da Felicidade, talvez uma das mais belas coisas que eu já tenha lido! Por isso fiz questão de resenha-lo particularmente.

    Os contos de Fitzgerald são longos, porém, muito bem estruturados separados em capítulos que dão um tempo para “respirar” e talvez  como Machado de Assis, ele sabe muito bem usar todos aqueles elementos que estão sendo colocados em suas narrativas. Me parece que todos os detalhes ali estão bem definidos e possuem um porquê.

    Alguns contos possuem uma característica claramente biográfica, como doenças, bebidas e loucuras. Evidenciadas pelo autor e registrado em seus contos.

    A sequência do livro ajuda a embarcar nesse universo quase como colocando o pé na piscina antes de se jogar de cabeça, ao decorrer os contos se tornam mais emotivos, mais fortes e os três finais arrebatadores.

    E ao final do livro, posso confessar que acabei me apaixonando por mais um autor e suas lindas palavras.

    “Lia quando estava a beber, lia na cama,
    Lia em voz alta, quando tinha fôlego,
    Todos os seus pensamentos estavam com os mortos,
    E, assim, leu até morrer.”

    Leia também: Todo Aquele Jazz (Geoff Dyer)

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