Um dos maiores desafios é resumir em algumas palavras algo de que gostamos muito. E foi assim com O Ciclista (livro de Walther Moreira Santos): uma leitura de poucas horas, intensa e arrebatadora. Simplesmente não consegui parar de ler até chegar ao fim.

    “Devo parecer cansado, um pouco inquieto e vagamente assustado. Quem sabe por isso a cidade se apresente melancólica e suja, e as pessoas, todas (mesmo uma bela mulher solitária que passa com seu cabelo negro comprido e sua jaqueta vermelha), derrotadas e irreais. Mas estou sereno, por dentro. Fazer o que deve ser feito – não importa o quê, ver o que há para ser visto, nos dá uma calma de fundo de oceano. Não importa a onda na superfície. O maremoto.” (Prólogo, pág. 12).

    Não sei como não conhecia o Walther Moreira Santos, mas graças à Editora Autêntica tive o prazer de ler as 124 páginas dessa obra, que está concorrendo ao meu prêmio de melhor leitura do ano, junto do Marçal Aquino.

    A história é narrada por Edgar, que conta suas lembranças, vivências e planos sobre Ceres, Caio e, é claro, o ciclista. Não vou entrar em detalhes sobre como os personagens se relacionam para não estragar o elemento surpresa, mas tudo se completa de uma forma que permite ao leitor sentir empatia, dor, tristeza, êxtase, tudo de uma só vez.

    Como a obra é curtinha, cada parágrafo é estudado para dizer exatamente aquilo que precisa ser dito. Gosto do jeito como o autor joga com as palavras e me permite ver a cena descrita, pequenos detalhes do cenário e sentimentos.

    Eu entrava no jogo. Ela ri e tenta me sufocar com um travesseiro. Eu me safo e logo nossos corpos voltam a se interpenetrar, a se fundir. De um modo tão perfeito que às vezes o coração doía, de tão terno. (…) Sim, o sentimento de se perder um pouco enquanto adentrava seu corpo e sentia suas unhas em minha pele, como se possuir alguém findasse por ser algo que vai além dos centímetros da carne que mergulhamos no desconhecido do corpo alheio; como se possuir alguém também fosse se perder, pouco ou muito. (pág. 53)

    Dessa vez optei por ser breve nas descrições, deixo a vocês leitores a tarefa de desvendar as minúcias. Só digo uma coisa: é impossível ler e não se envolver.

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