Confesso, foi difícil concluir a leitura de Meu Destino é Pecar (Nelson Rodrigues). Mesmo ansiosa para saber o desenrolar da história, quando estava faltando mais ou menos 1/3 eu já estava “remando” pra chegar até a última página. Mas, a curiosidade foi maior e dei uma chance. Que bom que não desisti do livro, pois o fechamento é emocionante, cheio de suspense e totalmente inesperado.

    A personagem Regina

    Como eu previ lá no Diário de Leitura 1, o grande mistério do livro gira em torno da personagem Regina, uma jovem que mora escondida aos arredores da Fazenda Santa Maria e aos poucos vai ganhando espaço na trama. Com o passar dos capítulos, o leitor vai mudando de ideia sobre a história da moça e pensando: Rá, eu sabia! Mas o Nelson Rodrigues demonstra um grande poder de convencimento… que logo em seguida você já está convencido da sua outra versão da história, e isso dá o combustível para manter a leitura.

    Um ódio generalizado

    Definitivamente o grande pano de fundo do livro é a forma dramática de amar das mulheres e o ódio e inveja que isso pode gerar nas pessoas. Eu já havia comentado no Diário de Leitura 2 sobre esse ódio generalizado, mas a leitura completa, na minha percepção, permitiu concluir que tudo decorre do amor exagerado e sem limites. Todo mundo é capaz de tudo por amor, ainda mais em uma terra sem lei onde o crime passa despercebido.

    – Estou falando sério, padre. O senhor viveu a vida, é bom demais, um santo, não sabe que as mulheres não gostam de homens nobres. (…) Eu tenho experiência, o senhor nem pode fazer ideia das mulheres que conheci. Pois bem: sempre que tentei ser nobre, o fracasso foi fatal. Sem discussão. As mulheres gostam dos homens que as fazem sofrer. Precisam sofrer, chorar, ter ciúmes. Sem isso, sem esses estímulos violentos, não sabem amar, não acham graça no amor!

    (Maurício em diálogo com Padre Clemente, pág. 197)

    Essa visão é impressa nas páginas tanto pelos personagens masculinos, quanto pelos femininos. As próprias mulheres admitem suas fragilidades, seus medos e que são capazes de tudo para alcançarem aquilo que desejam.

    – Em amor, quanto mais louca a mulher, melhor! Nem tem comparação! (…) São os homens que acham! Louca e bonita. A mulher precisa ser louca e bonita para amar e ser amada…

    (Lídia em diálogo com Leninha, pág. 222)

    Eu achei a leitura um pouco maçante, mas as pequenas reflexões que o Nelson permite ao leitor ao longo do livro compensam. É interessante ler os diálogos e perceber como tem pessoas capazes de tudo, de amar tanto ao ponto de ficarem cegas, de se preocuparem mais com a vida alheia do que com a sua própria, de se importarem mais com aparências e etc. Pequenos lições de vida em 524 páginas.

    O diário de leitura Meu destino é pecar (Nelson Rodrigues) continua aqui:

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