José Saramago (1922 – 2010) é uma aula de gramática e de literatura, fora a sensibilidade de compreensão da vida do único escritor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel em 1998, com o livro Memorial do Convento.

O Homem Duplicado, como é informado no próprio livro, não conta uma história científica, de clones, ou algo do gênero, mas conta a vida de um homem que descobre que em sua própria cidade há um homem idêntico a ele, como se fosse um irmão gêmeo, mas não é. E isso, sendo Tertuliano Máximo Afonso um personagem depressivo, causa a terrível sensação de falta de identidade e então, a partir deste ponto, o professor de história vai atrás do homem que ele vê no filme, um ator secundário, sem papéis importantes, e que é incrivelmente igual a ele.

Poucos, mas fortes, personagens

O romance tem poucos personagens, além de Tertuliano, temos António Claro, as mulheres Maria da Paz e Helena, e também a mãe de Tertualiano, chamada Carolina. Listei os personagens humanos, mas há também o Senso Comum que é que a consciência do personagem principal e, através dos diálogos longos, tão característicos de José Saramago, cria aquela situação como em desenhos animados: o anjinho e o diabinho sussurrando no ouvido do personagem.

Outro, responsável por um momento muito singelo na história, é o cachorro Tomarctus que vive com a mãe de Tertuliano, que acompanha, silenciosamente, claro, o encontro da mãe com o filho. Somente os bons escritores, conseguem captar os sentimentos de um cão, quando li os parágrafos dedicados ao cão, lembrei-me de Flush, o cachorro que Virginia Woolf descreveu tão bem.

A história possui um narrador que opina sobre as possibilidades da história e utiliza o próprio romance para explicar o seu processo narrativo e também pincela um pouco sobre literatura. Todo esse conjunto – narração em terceira pessoa, poucos personagens, enredo simples – faz do livro O homem duplicado uma rica fonte literária, completa pela força narrativa de José Saramago e, principalmente, por transformar a vida pacata de um cidadão comum numa grande aventura. 

As ações dos seres humanos, apesar de não serem já dirigidas por irresistíveis instintos hereditários, repetem-se com tão assombrosa regularidade que cremos ser lícito, sem forçar a nota, admitir a hipótese de uma lenta mas constante formação de um novo tipo de instinto, supomos que sociocultural será a palavra adequada, o qual, induzido por variantes adquiridas de tropismos repetitivos, e desde que respondendo a idênticos estímulos, faria com que a ideia que ocorreu a um tenha necessariamente de ocorrer a outro.

“O homem duplicado”, p. 168.

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