A Obscena Senhora D (Hilda Hilst): transcendência

A obscena senhora D é sobre transcendência, qualidade e forma.

Senhora D, a viva compreensão da vida é segurar
o coração. me faz um café

Antonio Candido no livro “Literatura e Sociedade” informa que há dois tipos de literatura: aquela que nasce para afirmar o que já existe (agregação) e aquela que nasce para modificar, transcender, renovar (segregação). Acredito que a escrita de Hilda Hilst pode ser classificada nesta segunda categoria, apesar do perigo desta classificação, afinal, o que faz uma obra transcender, além da qualidade da forma, há uma mágica que vive nela e na sociedade; a sociedade perante ela; ela perante a sociedade.

Hilda Hilst é uma escritora brasileira que faleceu em 2004, começou suas publicações literárias em 1950, aos 20 anos, com o livro de poesias “Presságio”. Somente em 1970 que o público conheceu a prosa de Hilda Hilst através do livro Fluxo-Floema, recheado de metafísica e metalinguagem, sendo estas, fortes características de todas as suas obras. Outra manifestação decorrente em suas obras é a sexualidade, como é o que caso do livro A Obscena Senhora D.

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A obscena senhora D: uma novela

Alguns chamam o livro de romance, mas na verdade é uma novela, pois tem apenas um núcleo principal formado por dois personagens: Hillé e Ehud. Esses dois personagens desnudam suas vivências, a forma como encaram um ao outro, em diálogos que se misturam aos seus pensamentos, num fluxo de consciência como poucos sabem fazer. Hillé, a narradora, é uma mulher em luta, mas não há uma guerra externa, tudo acontece em seu mundo interno, sua casa, seus paradigmas e descobertas.

Quando a história começa sabemos da morte de Ehud e logo em seguida o panorama é traçado: Hillé é uma senhora de 60 anos que está no canto da escada de sua casa, não quer sair de lá e, das vezes que sai, abre a janela e assusta os vizinhos com suas caretas. Suas memórias vão ao passado, nos diálogos que teve com Ehud na tentativa de entender o momento em que ela vive. Senhora D é obscena porque fala de sexo com liberdade, pois vê em seu conhecimento sexual uma possível forma de entendimento de sua comiseração.

Quem já leu a obra, também metafísica, de Clarice Lispector, A paixão Segundo G.H. poderá perceber uma certa familiaridade das personagens, as duas mulheres buscam “uma coisa que não tem nome” e acabam descobrindo a “maravilha-sem-nome” com a ajuda de uma outra forma de vida: uma barata, no caso de G.H. e uma porca no caso de Hillé. Ter essa informação sobre a história não atrapalha absolutamente nada a leitura, pois o mais importante nesses livros é a forma como as personagens percorreram seus caminhos, é a busca, a caminhada, a travessia.

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