O conto A marca na parede, publicado em 1917, foi a primeira impressão da editora Hogarth Press, comprada por Virginia e Leonard em 1915.

Virginia Woolf nos deixou extensas anotações em diários, que começam em 1915 e terminam em 1941, ano de sua morte. Na primeira anotação, ela tinha 33 anos e ocorreu no mesmo ano em que foi lançado o seu primeiro romance, A Viagem. Porém, antes mesmo da publicação do romance, ela se arriscava em escrever contos e também já era conhecida como crítica literária. No caso, A Marca na parede, publicado em 1917, revela uma Virginia Woolf já interessada em quebrar paradigmas literários.

a marca na parede
Edição de 1919

Em 1917 Virginia Woolf morava em Asheham House, que ficava próxima a Monk’s House. Era uma casa alugada, desde 1911. Ela gostava de passear pelo jardim e encontrar pequenas belezas naturais, como as flores, lagartas se transformando em borboletas e cogumelos.

Está registrado, de forma breve, os encontros com as pessoas que ela tanto gostava, a sua irmã Vanessa Bell sempre presente em bons momentos, o grande amigo Lytton Strachey, o marido Leonard Woolf e Katherine Mansfield, também escritora, que, mais para frente, acabaram se desentendendo por ciúmes e inveja mútua.

Piqueniques, longos passeios em pomares, jantares, idas à Londres, o Tinker (o cachorro dela), percepções sobre o tempo, o inverno, mas “uma linda noite estrelada, apensar de tudo.” (p. 54), que mistura a natureza com os sentimentos e as relações humanas, uma marca da obra woolfiana, discorre o ano de 1917, começando em agosto, com dias de trabalho na editora Hogarth Press, preocupações com Leonard Woof, que foi chamado para o serviço militar e uma certa ironia: Demos um pequeno passeio junto ao rio. Como a noite está bonita e bastante serena talvez tenha um ataque aéreo para descrever amanhã. (…) (p. 54)

O ataque aéreo não aconteceu neste dia, mas em outros, porém, ela não registrou o momento com detalhes. Mas sobre A Marca na parede não há nenhuma informação exata, porém, há algumas reflexões interessantes sobre vida e literatura:

“(…) ver a vida sem uma ilusão faz dela uma coisa horrível.”

p. 64

“Depois do chá a minha sala é, muito sugestivamente, um pequeno centro de luz no meio da mais profunda escuridão.”

p. 65

“Sabe, Clive [um amigo], descobri um pouco mais acerca do que é essencial a qualquer arte: sabe, a arte é representativa. Diz-se a palavra árvore e vê-se a árvore. Muito bem. Ora todas as palavras têm uma aura. A poesia combina as diversas auras numa sequência…” Foi mais ou menos assim. Eu disse que se pode, e é o que se faz realmente, escrever com frases, e não apenas com palavras; o que não fez avançar muito a discussão. O Roger perguntou-me se eu baseava a minha escrita numa textura ou numa estrutura; associei estrutura com enredo e portanto disse: “textura”. Depois discutimos o significado de estrutura e de textura na pintura e na literatura.”

p. 67

“(…) as luzes acesas da ponte desenhavam longas listas e amarelo – muito tranquilo, e como se fosse o coração do Inverno”

p. 68

O conto A marca na parede, publicado em 1917, foi a primeira impressão da editora Hogarth Press, comprada por Virginia e Leonard em 1915, período em que ela teve uma forte crise de depressão, que a fez abandonar o diário e só retomá-lo em 1917. A compra da editora colaborou muito no tratamento de Virginia Woolf, pois deixava-a ocupada e também em contato com outras pessoas.

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No início do diário, Virginia Woolf faz breves registros, não ocupando mais que poucas linhas para apenas um dia, porém, no decorrer do ano, os dias passam a ser mais complexos, com importantes anotações sobre a sua vida social e também a literatura, de forma a nos mostrar que a depressão havia dado uma trégua e que ela voltava com toda a sua força e genialidade.


Referência: Diário, vol. I, tradução de Maria José Jorge, Bertrand de Portugal, 1987.


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