País das Maravilhas, Terra do Nunca e o Reino de Nárnia…

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A Terra do Nunca, Nárnia e o País das Maravilhas são diferentes representações do mundo que vivemos. Repleto de confusão, dilemas e conflitos.

Toda criança tem seu mundo particular, uma ilha de aventuras, um reino encantado repleto de fantasias, histórias emocionantes e criaturas mágicas. Nesse mundo paralelo, os pequenos são super-heróis lutam contra os vilões, desafiam o perigo, questionam as regras. Brincam com seres mitológicos, voam, ficam invisíveis, conversam com os animais. Alternam entre esse mundo de fantasia e a realidade com tanta desenvoltura e normalidade quanto os adultos saem pra trabalhar, vão ao banco pagar as contas ou ao mercado fazer compras.

O reino de Nárnia, o País das Maravilhas, a Terra do Nunca. A literatura é rica na descrição desse lugar que em algum momento fez parte da história de cada um de nós. Um reino secreto, uma ilha perdida, um país subterrâneo, cada criança constrói de um jeito diferente e projeta nesse mundo todas as suas emoções, medos e desejos.

Aqueles que convivem com crianças estão acostumados a ouvir histórias curiosas. No momento das brincadeiras elas se transportam para esse mundo de maravilhas onde o possível não obedece à lógica da razão. É para lá que elas levam o que ouvem e aprendem com os adultos. A imaginação é a que comanda e o faz de conta é o que torna tudo possível.

As emoções e a realidade

Nas aventuras da Terra do Nunca e nas loucuras do País das Maravilhas, os conflitos emocionais e os problemas que as crianças que se colocam não são tão diferentes do que os que existem na realidade. Escolher entre o bem e o mal, em lutar ou fugir, em ajudar ou se omitir. Uma projeção dos dilemas que todos enfrentam na existência e, principalmente, no processo de crescimento e amadurecimento. Crescer é uma aventura que exige esforço e coragem. Cada nova experiência e aprendizado provocam mudanças no comportamento e no modo de enxergar e perceber o mundo. Nem todas as lições são dadas de maneira fácil ou resultam numa sensação agradável e é nesse momento que é bom ter um lugar para servir de refúgio, em que a voz da consciência vem de um personagem que aconselha e que sabe consolar. De fato, uma visita a esse mundo é capaz de confortar qualquer tristeza, acalmar a raiva e deixa ainda mais agitada a alegria dos pequenos.

Conhecer a si mesmo…

Em A Psicanálise dos Contos de Fadas, Bruno Bettelhein escreve que os momentos de introspecção dos personagens acontecem quando eles se perdem num cenário diferente do que estão acostumados, num lugar longe de casa. É o momento em que enfrentam seus medos, descobrem a suas forças, conhecem os amigos e os inimigos. É no meio da aventura que conhecem a si mesmos, crescem e amadurecem.

Os mundos apresentados em As Crônicas de Nárnia, Peter Pan e Alice no País das Maravilhas são lugares em que as lições são aprendidas em meio a aventuras, os pensamentos e emoções são externalizados com imagens de seres inanimados que criam vida, animais que sabem falar e seres dotados de poderes mágicos colocam-se como protetores. Não há uma só criança que não tenha imaginado um mundo desses, mesmo sem nunca ter ouvido nenhuma dessas histórias.

Um lugar de passagem

Mas esse mundo de magia é apenas um lugar de passagem. No final da história, Wendy volta para casa acompanhada de seus irmãos, Alice desperta do sonho a tempo da hora do chá e Nárnia também deve ser deixada. Em algum momento, as nossas visitas à terra da fantasia tornam-se menos frequentes. E chega um dia em que parece que esquecemos o caminho. Quando crescemos e aceitamos a lógica do cotidiano e o portal é fechado.

Os adultos não entendem a falta de lógica. Para eles Nárnia é fantasia, Alice estava sonhando e a Terra do Nunca jamais poderia existir. Mas quanta lógica existe nessa nossa realidade cheia de contrastes, paradoxos, correria e burocracias? A Terra do Nunca, Nárnia e o País das Maravilhas são diferentes representações do mundo que vivemos. Repleto de confusão, dilemas e conflitos. Um mundo que nem todos têm tempo para ver. Alguns consideram bobagem e não tem paciência para ouvir. Outros, mesmo sem acreditar, gostam de ouvir e ler histórias. E poucos que ainda insistem em acreditar.

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