As 9 melhores poesias de Lord Byron

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Uma seleção com as melhores poesias de Lord Byron

Lord Byron foi um poeta britânico (1788 – 1824) e uma das figuras mais influentes do Romantismo. A sua vida, para época, era repleta de escândalos morais e ele não poupava palavras para criticar a sociedade na qual estava inserido. Muito se fala do autor como uma entidade misteriosa e poucos acessam de fato suas obras. No Brasil, ele foi traduzido primeiramente pelo poeta romântico Castro Alves. Confira abaixo uma seleção com as melhores poesias de Lord Byron.

1. Trevas

Eu tive um sonho que não era em todo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaço eterno,
Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra
Girava cega e negrejante no ar sem lua;
Veio e foi-se a manhã – Veio e não trouxe o dia;
E os homens esqueceram as paixões, no horror
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:
E eles viviam ao redor do fogo; e os tronos,
Os palácios dos reis coroados, as cabanas,
As moradas, enfim, do gênero que fosse,
Em chamas davam luz; As cidades consumiam-se
E os homens juntavam-se junto às casas ígneas
Para ainda uma vez olhar o rosto um do outro;
Felizes enquanto residiam bem à vista
Dos vulcões e de sua tocha montanhosa;
Expectativa apavorada era a do mundo;
Queimavam-se as florestas – mas de hora em hora
Tombavam, desfaziam-se – e, estralando, os troncos
Findavam num estrondo – e tudo era negror.
À luz desesperante a fronte dos humanos
Tinha um aspecto não terreno, se espasmódicos
Neles batiam os clarões; alguns, por terra,
Escondiam chorando os olhos; apoiavam
Outros o queixo às mãos fechadas, e sorriam;
Muitos corriam para cá e para lá,
Alimentando a pira, e a vista levantavam
Com doida inquietação para o trevoso céu,
A mortalha de um mundo extinto; e então de novo
Com maldições olhavam para a poeira, e uivavam,
Rangendo os dentes; e aves bravas davam gritos
E cheias de terror voejavam junto ao solo,
Batendo asas inúteis; as mais rudes feras
Chagavam mansas e a tremer; rojavam víboras,
E entrelaçavam-se por entre a multidão,
Silvando, mas sem presas – e eram devoradas.
E fartava-se a Guerra que cessara um tempo,
E qualquer refeição comprava-se com sangue;
E cada um sentava-se isolado e torvo,
Empanturrando-se no escuro; o amor findara;
A terra era uma idéia só – e era a de morte
Imediata e inglória; e se cevava o mal
Da fome em todas as entranhas; e morriam
Os homens, insepultos sua carne e ossos;
Os magros pelos magros eram devorados,
Os cães salteavam seus donos, exceto um,
Que se mantinha fiel a um corpo, e conservava
Em guarda as bestas e aves e famintos homens
Até a fome os levar, ou os que caíam mortos
Atraírem seus dentes; ele não comia,
Mas com um gemido comovente e longo, e um grito
Rápido e desolado, e relambendo a mão
Que já não o agradava em paga – ele morreu.
Finou-se a multidão de fome, aos poucos; dois,
Dois inimigos que vieram a encontrar-se
Junto às brasas agonizantes de um altar
Onde se haviam empilhado coisas santas
Para um uso profano; eles a resolveram
E trêmulos rasparam, com as mãos esqueléticas,
As débeis cinzas, e com um débil assoprar
E para viver um nada, ergueram uma chama
Que não passava de arremedo; então alçaram
Os olhos quando ela se fez mais viva, e espiaram
O rosto um do outro – ao ver gritaram e morreram
– Morreram de sua própria e mútua hediondez,
– Sem um reconhecer o outro em cuja fronte
Grafara o nome “Diabo”. O mundo se esvaziara,
O populoso e forte era uma informe massa,
Sem estações nem árvore, erva, homem, vida,
Massa informe de morte – um caos de argila dura.
Pararam lagos, rios, oceanos: nada
Mexia em suas profundezas silenciosas;
Sem marujos, no mar as naus apodreciam,
Caindo os mastros aos pedaços; e, ao caírem,
Dormiam nos abismos sem fazer mareta,
Mortas as ondas, e as marés na sepultura
Que já findara sua lua senhoril.
Os ventos feneceram no ar inerte, e as nuvens
Tiveram fim; a escuridão não precisava
De seu auxílio – as trevas eram o Universo.

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2. Uma taça feita de um crânio humano

Não recues! De mim não foi-se o espírito…
Em mim verás – pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!… que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
– Taça – levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
…Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p’ra alguma coisa!…

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3. O Oceano

Rola, Oceano profundo e azul sombrio, rola!
Caminham dez mil frotas sobre ti, em vão;
de ruínas o homem marca a terra, mas se evola
na praia o seu domínio. Na úmida extensão
só tu causas naufrágios; não, da destruição
feita pelo homem sombra alguma se mantém,
exceto se, gota de chuva, ele também
sem féretro, sem túmulo, desconhecido
se afunda a borbulhar com seu gemido,

Do passo do há traços em teus caminhos,
nem são presa teus campos. Ergues-te e o sacodes
de ti; desprezas os poderes tão mesquinhos
que usa para assolar a terra, já que podes
de teu seio atirá-lo aos céus; assim o lanças
tremendo uivando em teus borrifos escarninhos
rumo a seus deuses – nos quais firma as esperanças
de achar um portou angra próxima, talvez –
e o devolves à terra – jaza aí, de vez.

Os armamentos que fulminam as muralhas
das cidades de pedra – e tremem as nações
ante eles, como os reis em suas capitais – ,
os leviatãs de roble, cujas proporções
levam o seu criador de barro a se apontar
como Senhor do Oceano e árbitro das batalhas,
fundem-se todos nessas ondas tão fatais
para a orgulhosa Armada ou para Trafalgar.

Tuas bordas são reinos, mas o tempo os traga:
Grécia, Roma, Catargo, Assíria, onde é que estão?
Quando outrora eram livres tu as devastavas,
e tiranos copiaram-te, a partir de então;
manda o estrangeiro em praias rudes ou escravas;
reinos secaram-se em desertos, nesse espaço,
mas tu não mudas, salvo no florear da vaga;
em tua fronte azul o tempo não põe traço;
como és agora, viu-te a aurora da criação.

Tu, espelho glorioso, onde no temporal
reflete sua imagem Deus onipotente;
calmo ou convulso, quando há brisa ou vendaval,
quer a gelar o pólo, quer em cima ardente
a ondear sombrio, – tu és sublime e sem final,
cópia da eternidade, trono do Invisível;
os monstros dos abismos nascem do teu lodo;
insondável, sozinho avanças, és terrível.

Amei-te, Oceano! Em meus folguedos juvenis
ir levado em teu peito, como tua espuma,
era um prazer; desde meus tempos infantis
divertir-me com as ondas dava-me alegria;
quando, porém, ao refrescar-se o mar, alguma
de tuas vagas de causar pavor se erguia,
sendo eu teu filho esse pavor me seduzia
e era agradável: nessas ondas eu confiava.
e, como agora, a tua juba eu alisava.

4. Estâncias para Música

Alegria não há que o mundo dê, como a que tira.
Quando, do pensamento de antes, a paixão expira
Na triste decadência do sentir;
Não é na jovem face apenas o rubor
Que esmaia rápido, porém do pensamento a flor
Vai-se antes de que a própria juventude possa ir.
Alguns cuja alma boia no naufrágio da ventura
Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados;
O ímã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura
Praia que nunca atingirão os panos lacerados.
Então, frio mortal da alma, como a noite desce;
Não sente ela a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar;
toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar;
Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece.
Dos lábios flua o espírito, e a alegria o peito invada,
Na meia-noite já sem esperança de repouso:
É como na hera em torno de uma torre já arruinada,
Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso.
Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas,
Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto;
Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas:
No ermo da vida assim seria para mim o pranto.

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5. A Inês

Não me sorrias à sombria fronte,
Ai! sorrir eu não posso novamente:
Que o céu afaste o que tu chorarias
E em vão talvez chorasses, tão somente.

E perguntas que dor trago secreta,
A roer minha alegria e juventude?
E em vão procuras conhecer-me a angústia
Que nem tu tornarias menos rude?

Não é o amor, não é nem mesmo o ódio,
Nem de baixa ambição honras perdidas,
Que me fazem opor-me ao meu estado
E evadir-me das coisas mais queridas.

De tudo o que eu encontro, escuto, ou vejo,
É esse tédio que deriva, e quanto!
Não, a Beleza não me dá prazer,
Teus olhos para mim mal têm encanto.

Esta tristeza imóvel e sem fim
É a do judeu errante e fabuloso
Que não verá além da sepultura
E em vida não terá nenhum repouso.

Que exilado – de si pode fugir?
Mesmo nas zonas mais e mais distantes,
Sempre me caça a praga da existência,
O Pensamento, que é um demônio, antes.

Mas os outros parecem transportar-se
De prazer e, o que eu deixo, apreciar;
Possam sempre sonhar com esses arroubos
E como acordo nunca despertar!

Por muitos climas o meu fado é ir-me,
Ir-se com um recordar amaldiçoado;
Meu consolo é saber que ocorra embora
O que ocorrer, o pior já me foi dado.

Qual foi esse pior? Não me perguntes,
Não pesquises por que é que consterno!
Sorri! não sofras risco em desvendar
O coração de um homem: dentro é o Inferno.

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6. “So, well go no more a roving”

Não mais prazer nos daremos
até a noite acabar,
se bem que inda nos amemos
e como antes brilhe o luar.

A espada à bainha gasta,
as almas cansam o seio.
Coração que não se afasta
pode até ficar em meio.

Para o amor a noite é feita,
e depressa chega o dia.
Mas o prazer nos enjeita
à luz da lua sombria.

7. O crepúsculo da tarde

Anão e servos, menestrel e bardos,
o árabe narrador e as bailarinas
desertaram das salas do banquete.
Haydéa e seu amante, a sós, estavam,
vendo o sol que em desmaio no ocidente
bordava o céu de franjas cor-de-rosa.

Ave-Maria! estrela do viandante,
tu conduzes ao pouso o peregrino
que anda, longe dos seus, na terra estranha.
Salve, estrela do mar; em ti se fitam
olhos e coração do marinheiro
que no oceano te saúda agora.
Salve, rainha excelsa, Ave-Maria!
Ei-la que chega a hora do teu culto,
à tardinha, em céu meigo, à luz do ocaso!

Bendita seja est’hora tão querida,
e o tempo, e o clima, e os sítios suspirados,
onde eu gozava na manhã da vida
o enlevo, – o santo enlevo, – deste instante!
Soava ao longe, – bem me lembro ainda, –
na velha torre o sino do mosteiro;
subia ao céu em notas morredouras
o harmonioso cântico da tarde;
era tudo silêncio, – e só se ouvia
a natureza a suspirar seus hinos
de arroubo e fé, – de devoção e pasmo.

Hora do coração, do amor, das preces,
Salve, Maria. Enlevo a ti minha alma,
Como é formoso o oval de teu semblante!
Amo teu rosto feiticeiro e belo,
amo o doce recato de teus olhos,
que se cravam na terra, enquanto adejam
sobre tua puríssima cabeça
cândidas asas de celeste anúncio!
Será isto um painel da fantasia?
Um quadro, um canto, uma legenda, um sonho?
Não! somente me prostro ante a verdade.

Aprazem-se uns obscuros casuístas
em criminar-me de ímpio. – Eles que venham
ajoelhar-se e suplicar comigo…
Veremos qual de nós melhor conhece
o caminho do céu. – São meus altares
as montanhas, as vagas do oceano,
a terra, o ar, os astros, o universo,
tudo o que emana da sublime Essência,
de onde exalou-se, e aonde irá minh’alma.

Hora doce do trêmulo crepúsculo!
quantas vezes errante, junto à praia,
na solidão dos bosques de Ravena,
que se alastram por onde antigamente
flutuavam as ondas do Adriático,
Bosques frondosos, para mim sagrados
pelos graciosos contos do Boccácio,
pelos versos de Dryden; – quantas vezes
aí cismei aos arrebóis da tarde!

Tudo o que há de mais grato, a ti devemos,
ó Héspero: – ao romeiro fatigado
dás a hospedagem: – a cansado obreiro,
a refeição da tarde; – ao passarinho,
a asa da mãe; – ao boi, o aprisco:
toda a paz que se goza em torno aos lares,
o quente, o meigo aninho dos penates,
descem contigo à hora do repouso,
tu coas n’alma o doce da saudade;
moves o coração, que a vez primeira
sai da terra natal, deixa os amigos,
e anda à mercê das ondas do oceano:
enterneces, enfim, o peregrino
ao som da torre, cuja voz sentida
como que chora o dia moribundo.

8. Tu me chamas

Em momentos de delícia,
Extática, embevecida,
Numa voz, toda carícia,
Tu me chamas: “Minha vida!”

Sentira, à frase tão doce,
Exultar-me o coração,
Se a nossa existência fosse
De perpétua duração.

Levam-nos esses momentos
Ao fim comum dos mortais.
Ou não saiam tais acentos
Dos lábios teus nunca mais,

Ou, mudando a frase terna,
“Minha alma”, podes dizer.
Pois a alma não morre; eterna
Qual meu amor, há de ser.

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9. Ela caminha em formosura

Ela caminha em formosura, como uma noite
Em que o céu está sem nuvens e com estrelas palpitantes,
E o que há de bom em treva ou resplendor
Se encontra em seu olhar e em seu semblante:
Ela amadureceu à luz tão branda
Que o Céu denega ao dia em seu fulgor.

Uma sombra de mais, em raio que faltasse,
Teriam diminuído a graça indefinível
Que em suas tranças cor de corvo ondeia
Ou meigamente lhe ilumina a face:
E nesse rosto mostra, qualquer doce idéia,
Como é puro seu lar, como é aprazível.

Nessas feições tão cheias de serenidade,
Nesses traços tão calmos e eloquentes,
O sorriso que vence e a tez que se enrubesce
Dizem apenas de um passado de bondade:
De uma alma cuja paz com todos transparece,
De um coração de amores inocentes. 

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