Naturalismo: a literatura sem romantizações

O Naturalismo é uma escola literária que surgiu na segunda metade do século XIX, que tem como principal característica retratar de forma objetiva e precisa a realidade e o comportamento humano, com ênfase nos aspectos biológicos e sociais. É uma corrente que valoriza a ciência e a observação empírica, buscando retratar os indivíduos como produtos do meio e da hereditariedade, sem romantizações ou idealizações.

Na literatura naturalista, as descrições são minuciosas e detalhadas, abrangendo desde os aspectos físicos e psicológicos dos personagens até o ambiente social e cultural em que vivem. Os temas abordados são muitas vezes polêmicos e controversos, como a prostituição, a violência, a doença, a miséria e a marginalização social.

A linguagem utilizada no Naturalismo é clara e direta, buscando uma maior objetividade e distanciamento emocional do autor em relação à história. O narrador assume uma posição de observador e analista, mostrando uma visão crítica e realista do mundo. A linguagem também se apoia em termos científicos e técnicos, buscando uma aproximação com as ciências naturais.

Assim, o Naturalismo representa uma importante ruptura com as concepções idealistas e subjetivas da literatura romântica e simbolista, valorizando a razão, a ciência e a observação do mundo empírico. É uma corrente que desafia as normas sociais e literárias estabelecidas, ao mesmo tempo em que busca compreender de forma mais aprofundada as complexidades do ser humano e da sociedade em que vive.

Naturalismo no Brasil

No Brasil, alguns dos principais representantes do Naturalismo na literatura foram Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha e Raul Pompeia.

Aluísio Azevedo é considerado o principal nome do Naturalismo no Brasil, tendo escrito obras como “O Mulato” e “O Cortiço“, que retratam de forma crua e realista a vida urbana e a questão da corrupção no país. Suas obras apresentam um forte enfoque social e uma crítica à sociedade burguesa.

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.”

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Júlia Lopes de Almeida também é um nome importante, pois, além de ter sido recuperada historicamente, representa a voz das mulheres para esse período literário tão importante. De suas obras, destacam-se: A Viúva Simões, A Falência e A Intrusa.

“Estava num dos seus momentos de melancolia; almejava qualquer coisa que ela mesma não sabia definir. Era a revolta surda contra a pacatez da sua vida sem emoções, contra aquele propósito de enterrar a sua mocidade e a sua formosura longe dos gozos e dos triunfos mundanos.”

A Viúva Simões, p. 7. COMPRE NA AMAZON

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Adolfo Caminha é outro importante escritor naturalista, que se destacou com obras como “A Normalista” e “O Bom Crioulo”, que abordam temas como a homossexualidade, a prostituição e a marginalização social. Suas obras apresentam uma linguagem precisa e direta, que retrata com realismo a realidade das personagens.

Raul Pompeia, por sua vez, escreveu obras como “O Ateneu” e “O Anjo”, que retratam a vida escolar e a decadência da aristocracia brasileira do final do século XIX. Suas obras apresentam uma forte crítica à hipocrisia e às normas sociais da época.

Esses autores contribuíram para consolidar o Naturalismo como um importante movimento literário no Brasil, trazendo uma visão crítica e realista da sociedade e do comportamento humano, que influenciou gerações posteriores de escritores.

Naturalismo na Europa

O Naturalismo iniciou-se na Europa, na segunda metade do século XIX, como uma corrente literária que buscava retratar a realidade de forma objetiva e precisa, com base na observação científica e no determinismo biológico. O Naturalismo foi influenciado pelo positivismo, que valorizava a ciência e a razão como meios para compreender o mundo, e pelo darwinismo, que enfatizava a seleção natural e a hereditariedade como fatores determinantes do comportamento humano.

Entre os principais autores do Naturalismo europeu, destacam-se:

  • Émile Zola, escritor francês considerado o principal teórico e propagador do Naturalismo. Suas obras mais conhecidas incluem “Germinal”, “Nana” e “A Besta Humana“, que retratam de forma crua e realista a vida das classes populares, a luta de classes e os vícios humanos.
  • Guy de Maupassant, escritor francês conhecido por suas obras de contos e novelas, que retratam com precisão a realidade social e psicológica da época. Suas obras mais conhecidas incluem “Bel-Ami” e “Contos do Dia e da Noite“.
  • Giovanni Verga, escritor italiano que retratou a vida na Sicília em obras como “Os Malavoglia” e “Mastro-don Gesualdo”, que mostram a pobreza e a miséria da região e a luta pela sobrevivência.
  • Thomas Hardy, escritor britânico que retratou a vida rural na Inglaterra em obras como “Tess, a dos D’Urbervilles” e “Jude, o Obscuro”, que mostram a influência do meio e da hereditariedade sobre a vida das personagens.

Esses autores e suas obras contribuíram para consolidar o Naturalismo como uma importante corrente literária na Europa, que influenciou gerações posteriores de escritores e teve um impacto significativo na forma como a realidade e o comportamento humano eram retratados na literatura.


Imagem de destaque: Homem com uma enxada, obra do artista francês Jean-François Millet, precursor do realismo pelas suas representações de trabalhadores rurais.