Javier Cercas é um escritor espanhol muito aclamado. Ficou conhecido mundialmente pelo romance “Soldados de Salamina” que tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola. Javier é colaborador do jornal El País e foi professor de Literatura Espanhola nas universidades de Girona e Illinois.

    Em “As Leis da Fronteira”, Javier fez um tipo de romance de formação, ou seja, mostrou um personagem em busca de crescimento, da infância à fase adulta, que passa por experiências fundamentais até definir totalmente sua personalidade.

    O romance conta a história de Ignácio Cañas, um jovem de classe média que tem uma vida tranquila quando não está fugindo dos valentões da escola. Em uma tarde, enquanto está jogando fliperama, Ignácio conhece Zarco e Tere, um casal de quinquis (gíria catalã que significa “delinquentes juvenis”). Esse encontro transforma totalmente a vida de Cañas, que entra para o bando de Zarco e logo se mete em encrencas. Zarco passa por várias penitenciárias e foge da maioria delas, se tornando um ícone da delinquência juvenil, retratado em filmes, músicas e livros.

    A narrativa é em primeira pessoa. A trama se inicia com a conversa de um Ignácio adulto com um jornalista, que busca dados sobre o passado de Zarco a fim de escrever uma biografia.

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    O livro é dividido em três partes: Além, Aquém e Epílogo. A verdadeira história de Liang Shan Po. Cañas não é o único narrador, outros “entrevistados” dão vozes para o jornalista compor a história de Zarco, que é um personagem complexo até aos olhos do entrevistador.

    “O resultado é que o Zarco e seu bando se transformaram, naquela primavera, num elemento a mais da paisagem do bairro chinês. É verdade que eram uma parte especial, e que isso também devia ter nos alertado. Porque no bairro chinês havia muitos quinquis como eles, mais ou menos da mesma idade deles, mas todos se juntavam com pessoas mais velhas, que comandavam tudo, trançavam os objetivos e se aproveitavam deles; já o Zarco e seu bando faziam tudo à sua moda e não obedeciam às ordens de ninguém. E isso, mais tarde, quando as coisas ficaram sérias, tornou-os muito mais difíceis de controlar.” 

    p. 91

    Apesar de a busca pelo passado de Zarco ser o pano de fundo do romance, o envolvimento de Ignácio com a Tere e o bando de Zarco toma uma grande parte da narrativa.

    Desigualdade social

    A desigualdade social é amplamente discutida no romance. Zarco pertence a um bairro pobre, afastado e decrépito, enquanto Cañas mora em um bairro de classe média na cidade de Girona. Essas diferenças não são ignoradas quando Ignácio entra para o bando do colega. As fronteiras que separam a cidade também são metáforas para a desigualdade.

    No geral é um bom livro, com personagens bem desenvolvidos, narrativa ágil e espaço de sobra para a reflexão do leitor, uma vez que ao final da leitura, percebemos como as escolhas que fizemos no passado influenciaram nosso futuro, a ponto de nos tornamos seres completamente diferentes, frutos de ações irreversíveis.

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