Lolita (Vladimir Nabokov) foi um livro difícil de perpassar: a sintaxe, juntamente com outros aspectos da escrita, dançavam maravilhosamente; era frequente reler frases apenas por sua beleza construtiva. A semântica erudita é outro maravilhoso entrave. Sente-se que é um livro que permite ao leitor relê-lo inúmeras vezes para que se possa medir o quanto se amadureceu num determinado período de tempo. A forma como o livro é feito compete em pé de igualdade com a história nele contida.

    Desde o início, é imposta uma pergunta a respeito da história que se lê. Não é algo tão simples como um “sim” ou “não” a um inquérito a respeito de traição, e nem tão superficial à história do livro. É um tema melindroso e essencial da história. Ao se tentar responder a essa indagação que não assume uma forma fixa, o leitor atola num processo lento e perceptivo de si próprio: afunda cada vez mais em indagações de limites do respeito ao que nos faz humanos ou desumanos e uma sorte infindável de outros entraves existenciais.

    Há também uma dicotomia muito marcante elaborada a partir dos anseios delegados à humanidade, anseios que variam de uma mera vontade adicional, que pode muito bem exercer a força de um instinto primitivo, até um real instinto primitivo que por vez ou outra conseguimos domar até que este desça ao nível de capricho. As mutações de nossos desejos e como estes afetam os que no rodeiam, e as consequências destes conferem uma parte importante da pergunta descrita no parágrafo anterior.

    Lolita é riquíssimo, mas sua profundidade permite apenas que se faça um debate de cada entrave cognitivo apresentado no meio da história análogo ao entrecho, e não uma breve sinopse sem que se estrague a maestria com que esta obra foi feita.

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