Tarantata é o segundo livro de Cíntia Lacroix, escritora finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com sua outra obra, Sanga Menor, resenhada aqui.

    Quando li Sanga Menor fiquei surpresa com a delicadeza e a riqueza literária do livro. Gosto de ler escritores nacionais e fico muito feliz quando um livro me tira da minha zona de conforto, Sanga Menor fez isso e Cíntia repetiu o feito em Tarantata.

    O romance narra a história de Giuseppina Palumbo, a última filha de Mafalda Palumbo, que veio ao mundo quando a mãe já não tinha mais idade para ter filhos.

    “Ao descobrir-se grávida pela terceira vez, Mafalda Palumbo pensara em recorrer às ervas que apertam o ventre. Já não tinha idade para pôr filho no mundo, e Gesù Bambino talvez a perdoasse, levando em conta que se tratava de uma gravidez miserenta, urdida com o quase-nada de mulherice que lhe sobrara no corpo, isso sem falar na semente de Girolamo, que decerto não passava de um aleijão, tamanha a quantidade de grapa que o desgraçado empinara naquela noite.”

    p. 18

    Giuseppina cresce e se torna a filha mais prestativa, auxiliando em todas as tarefas domésticas com muito afinco e força, apesar de sua miudeza. Certo dia, a moça sente uma forte dor de cabeça e começa a correr e dançar alucinadamente pela praia. Depois desse acontecimento, corre o boato de que a menina foi picada por uma aranha e se tornou uma tarantata.

    Após alguns acontecimentos, a família Palumbo acaba no Brasil, na cidade de São Paulo, santo protetor das tarantatas. Outros personagens entram em cena, como Marçal, pianista solteiro que vive com a mãe sob os cuidados de Regina, uma enfermeira enxerida.
    Marçal se afeiçoa a Giuseppina e se aproxima lentamente da família Palumbo até descobrir o mistério que os rodeia.

    “O texto levantava indícios de que o tarantismo seria, na verdade, uma válvula de escape, a maneira encontrada por algumas mulheres na Itália meridional para aliviar-se das repressões terríveis que a sufocavam.”

    p. 109

    Tarantata um livro denso, bem escrito, com personagens bem desenvolvidos e com um toque de realismo fantástico, digno de ser comparado a J.J. Veiga e Murilo Rubião. Também gostei da construção da narrativa, que não é tão comum na literatura brasileira contemporânea. Cíntia iniciou o livro com um narrador-personagem, em primeira pessoa. Esse narrador imagina toda a história de Giuseppina e a trama segue por várias páginas em terceira pessoa. Nos últimos capítulos, o narrador-personagem do início retorna, tudo passa a fazer mais sentido e a narrativa encerra em primeira pessoa.

    Sem dúvida, vale a leitura!

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