A escritora brasileira Cecília Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901 e faleceu em 09 de novembro de 1964. Não teve uma vida tão longa, porém deixou uma extensa obra literária que contém contos, crônicas, poesias e romances. Abaixo uma pequena seleção de poesias de Cecília Meireles para ler e se apaixonar!

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    Gargalhada

    Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
    Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
    Dobra essa orelha grosseira, e escuta
    o ritmo e o som da minha gargalhada:

    Ah! Ah! Ah! Ah!
    Ah! Ah! Ah! Ah!

    Não vês?
    É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
    Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
    vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
    destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
    e atirar para longe os pandeiros e as liras…

    O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

    Mas é preciso ter baixelas de ouro,
    compreendes?
    — e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
    E as lâmpadas, Deus do céu!
    E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas…

    Escuta bem:

    Ah! Ah! Ah! Ah!
    Ah! Ah! Ah! Ah!

    Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
    do céu que venta,
    do mar que dança,
    e de mim.

    Motivo

    Eu canto porque o instante existe
    e a minha vida está completa.
    Não sou alegre nem sou triste:
    sou poeta.

    Irmão das coisas fugidias,
    não sinto gozo nem tormento.
    Atravesso noites e dias
    no vento.

    Se desmorono ou se edifico,
    se permaneço ou me desfaço,
    — não sei, não sei. Não sei se fico
    ou passo.

    Sei que canto. E a canção é tudo.
    Tem sangue eterno a asa ritmada.
    E um dia sei que estarei mudo:
    — mais nada.

    Fio

    No fio da respiração,
    rola a minha vida monótona,
    rola o peso do meu coração.

    Tu não vês o jogo perdendo-se
    como as palavras de uma canção.

    Passas longe, entre nuvens rápidas,
    com tantas estrelas na mão…

    — Para que serve o fio trêmulo
    em que rola o meu coração?

    Herança

    Eu vim de infinitos caminhos,
    e os meus sonhos choveram lúcido pranto
    pelo chão.

    Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
    essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
    porque vinha de um coração?

    E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
    do pranto que caiu dos meus olhos passados,
    que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?

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    Interlúdio

    As palavras estão muito ditas
    e o mundo muito pensado.
    Fico ao teu lado.

    Não me digas que há futuro
    nem passado.
    Deixa o presente — claro muro
    sem coisas escritas.

    Deixa o presente. Não fales,
    Não me expliques o presente,
    pois é tudo demasiado.

    Em águas de eternamente,
    o cometa dos meus males
    afunda, desarvorado.

    Fico ao teu lado.

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