No dia 04 de fevereiro de 2004, Hilda Hilst, poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira nos deixou. Para relembrar um dos maiores nomes da Literatura Brasileira, abaixo está uma seleção de poesias de Hilda Hilst. Para ler, reler, se emocionar e não esquecer!

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    I

    Aflição de ser eu e não ser outra.
    Aflição de não ser, amor, aquela
    Que muitas filhas te deu, casou donzela
    E à noite se prepara e se adivinha

    Objeto de amor, atenta e bela.
    Aflição de não ser a grande ilha
    Que te retém e não te desespera.
    (A noite como fera se avizinha.)

    Aflição de ser água em meio à terra
    E ter a face conturbada e móvel.
    E a um só tempo múltipla e imóvel

    Não saber se se ausenta ou se te espera.
    Aflição de te amar, se te comove.
    E sendo água, amor, querer ser terra.

    II

    É meu este poema ou é de outra?
    Sou eu esta mulher que anda comigo
    E renova a minha fala e ao meu ouvido
    Se não fala de amor, logo se cala?

    Sou eu que a mim mesma me persigo
    Ou é a mulher e a rosa que escondidas
    (Para que seja eterno o meu castigo)
    Lançam vozes na noite tão ouvidas?

    Não sei. De quase tudo não sei nada.
    O anjo que impulsiona o um poema
    Não sabe da minha vida descuidada.

    A mulher não sou eu. E perturbada
    A rosa e seu destino, eu a persigo
    Em direção aos reinos que inventei.

    IV

    Tenho medo de ti e deste amor
    Que à noite se transforma e verso e rima.
    E o medo de te amar, meu triste amo,
    Afasta o que aos meus olhos aproxima.

    Conheço as conveniências da retina.
    Muita coisa aprendi dos seus afetos:
    Melhor colher os frutos na vindima
    Que busca-los em vão pelos desertos.

    Melhor a solidão. Melhor ainda
    Enlouquecendo os meus olhos, o escuro,
    Que o súbito clarão de aurora vinda

    Silenciosa dos vãos de um alto muro.
    Melhor é não te ver. Antes nada
    Esquecer de que existe amor tão puro.

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    VI

    Que não se leve a sério este poema
    Porque não fala de amor, fala de pena.
    E nele se percebe o meu cansaço
    Restos de um amor antigo e de sargaço.

    Difícil dizer amor quando se ama
    E na memória aprisionar o instante.
    Difícil tirar os olhos de uma chama
    E de repente sabe-los na constante

    E mesma e igual procura. E de repente
    Esquecidos de tudo que já viram
    Sonharem que são olhos inocente

    Ah, o mundo que os meus olhos assistiram…
    Na noite com espanto eles se abriram.
    Na noite se fecharam, de repente.


    Hilda Hilst. “Exercícios”. Sonetos que não são. p. 217 a 223

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