Em tempos de festas, pode ser útil conhecer poesias sobre o tema. Aqui no site já resenhamos alguns contos de Natal. Para este ano fizemos uma seleção de poesias sobre Natal. Hohoho.

    Natal (Fernando Pessoa)

    O sino da minha aldeia,
    Dolente na tarde calma,
    Cada tua badalada
    Soa dentro de minha alma.

    E é tão lento o teu soar,
    Tão como triste da vida,
    Que já a primeira pancada
    Tem o som de repetida.

    Por mais que me tanjas perto
    Quando passo, sempre errante,
    És para mim como um sonho.
    Soas-me na alma distante.

    A cada pancada tua,
    Vibrante no céu aberto,
    Sinto mais longe o passado,
    Sinto a saudade mais perto.

    Chove. É dia de Natal (Fernando Pessoa)

    Chove. É dia de Natal.
    Lá para o Norte é melhor:
    Há a neve que faz mal,
    E o frio que ainda é pior.

    E toda a gente é contente
    Porque é dia de o ficar.
    Chove no Natal presente.
    Antes isso que nevar.

    Pois apesar de ser esse
    O Natal da convenção,
    Quando o corpo me arrefece
    Tenho o frio e Natal não.

    Deixo sentir a quem quadra
    E o Natal a quem o fez,
    Pois se escrevo ainda outra quadra
    Fico gelado dos pés.


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    Natal (Miguel Torga)

    Foi tudo tão pontual
    Que fiquei maravilhado.
    Caiu neve no telhado
    E juntou-se o mesmo gado
    No curral.

    Nem as palhas da pobreza
    Faltaram na manjedoira!
    Palhas babadas da toira
    Que ruminava a grandeza
    Do milagre pressentido.
    Os bichos e a natureza
    No palco já conhecido.

    Mas, afinal, o cenário
    Não bastou.
    Fiado no calendário,
    O homem nem perguntou
    Se Deus era necessário…
    E Deus não representou.

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    Rosas de Inverno (Camilo Pessanha)

    Corolas, que floristes
    Ao sol do inverno, avaro,
    Tão glácido e tão claro
    Por estas manhãs tristes.

    Gloriosa floração,
    Surdida, por engano,
    No agonizar do ano,
    Tão fora da estação!

    Sorrindo-vos amigas,
    Nos ásperos caminhos,
    Aos olhos dos velhinhos,
    Às almas das mendigas!

    Desse Natal de inválidos
    Transmito-vos a bênção,
    Com que vos recompensam
    Os seus sorrisos pálidos.

    Poema de Natal (Vinicius de Moraes)

    poesias sobre Natal

    Para isso fomos feitos:
    Para lembrar e ser lembrados
    Para chorar e fazer chorar
    Para enterrar os nossos mortos —
    Por isso temos braços longos para os adeuses
    Mãos para colher o que foi dado
    Dedos para cavar a terra.
    Assim será nossa vida:
    Uma tarde sempre a esquecer
    Uma estrela a se apagar na treva
    Um caminho entre dois túmulos —
    Por isso precisamos velar
    Falar baixo, pisar leve, ver
    A noite dormir em silêncio.
    Não há muito o que dizer:
    Uma canção sobre um berço
    Um verso, talvez de amor
    Uma prece por quem se vai —
    Mas que essa hora não esqueça
    E por ela os nossos corações
    Se deixem, graves e simples.
    Pois para isso fomos feitos:
    Para a esperança no milagre
    Para a participação da poesia
    Para ver a face da morte —
    De repente nunca mais esperaremos…
    Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
    Nascemos, imensamente.

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