Morte em Veneza: Toda energia que ele utilizava na literatura, ele agora canaliza na busca incessante de se saciar do belo, cuja fonte é o rapaz. 

    Aschenbach já disseram uma vez, expressamente, embora numa passagem de pouco realce, que quase tudo que existe de grandioso existe com um “pesar de”, ou seja, algo que se realizou apesar de preocupações e tormentos, apesar de pobreza, do abandono, da fragilidade física, do vício, da paixão e de mil outros obstáculos.

    Comparada às outras obras do autor, Morte em Veneza pode parecer um livro pequeno. Mas não é o que se sente quando terminado o livro. A leitura é densa e a escrita truncada. As divagações, filosóficas ou não, são recorrentes. De forma que, apesar do tamanho, ele pode ser equiparado com os outros trabalhos de Mann.

    O protagonista, Gustav Von Aschenbach, é um literato alemão que não vê utilidade para o lazer, diversão e relaxamento. Gosta sempre de estar ativo em algum trabalho literário, pelo qual já ganhou fama e títulos de nobreza. E chega a dizer que essa arte é das que mais se demanda esforço do ser humano. Mas em certo momento de sua vida, quando já está com cinqüenta anos, Aschenbach resolve que para prosseguir com seu trabalho, ele precisa primeiramente descansar, mudar de ares, indo contra o que acreditava. De forma que o personagem acaba escolhendo como destino, a Rainha do Adriático: Veneza.

    Chegando na cidade, o autor se demonstra inquieto e procura logo uma distração. Vai até a praia e lá se depara com a encarnação da beleza: um jovem menino polonês. Gustav se vê então conduzido pela coleira (como ele mesmo diz no livro) da enlevação que aquela visão lhe proporciona.

    Toda energia que ele utilizava na literatura, ele agora canaliza na busca incessante de se saciar do belo, cuja fonte é o rapaz. E assim se passam 70 páginas do livro: o autor usando das mais diversas formas de se agraciar uma pessoa. O personagem persegue e tenta perscrutar de longe a vida da criança durante todo o tempo que lhe é possível.

    O belo e o feio

    Há toda uma dicotomia entre o belo e o feio. No começo do livro, durante a viagem, Aschenbach analisa um grupo de jovens no navio que se ocupa em balburdiar pelos corredores. Observando com mais atenção, ele percebe que dentre os jovens há um impostor, um velho. Daí em diante o personagem se perde num monólogo mental em que ele próprio diz sentir asco de um velho que não sabe se colocar entre os seus.

    O irônico é que algumas páginas depois é o próprio protagonista que deseja se imiscuir com o pequeno e belo polonês. E ele chega a se dar conta desse impasse, e amaldiçoa o seu estado. Embora tenha morte no título, o livro trata de uma das forças que mantém mecanismo da vida funcionando.

    As observações e as vivências do solitário calado são ao mesmo tempo mais difusas e intensas do que as dos seres sociáveis, seus pensamentos, mais graves, mais fantasiosos e sempre marcados por um laivo de tristeza. Imagens e impressões que facilmente seriam esquecidas com um olhar, um sorriso, uma troca de opiniões ocupam-no mais do que o devido, aprofundam-se no silêncio, ganham significado, transformam-se em vivência, , aventura, sentimento.

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