No livro Frankenstein (Mary Shelley), um dos momentos mais lindos para mim, é quando a criatura compreende a linguagem. De repente, o mundo exterior passa a fazer um pouco de sentido e, na mesma proporção, a consciência sobre si mesmo também se expande.

    Amo aquele momento em que compreendemos alguma coisa, das mais simples às mais difíceis, pois sinto que subi mais um degrau nessa escada infinita chamada conhecimento. Talvez seja isso que me cativa tanto nos livros, pois os vejo realmente como um instrumento que me salva da minha própria ignorância.

    No livro Frankenstein (Mary Shelley), um dos momentos mais lindos para mim, é quando a criatura compreende a linguagem. De repente, o mundo exterior passa a fazer um pouco de sentido e, na mesma proporção, a consciência sobre si mesmo também se expande. Lembro-me quando li essa parte da história. Foi uma experiência única, que sempre guardo comigo, pois acredito que todos nós somos um pouco como a criatura feita pelo Dr. Frankenstein. Tem dias em que a linguagem vinda dos outros é incompreensível, por tamanha violência, por exemplo. Em outros dias e situações, somos capazes de compreender tudo e agir.

    É claro que, toda a emoção causada em mim quando li Frankenstein e o momento da criatura reconhecer os sons e as letras está totalmente relacionado com a construção desse personagem, o seu sofrimento e sua solidão. A princípio, abandonado e sem saber o próprio horror que causa em outras pessoas, somente quando ele decifra os sons, ouve uma música, entende as relações entre as pessoas e suas tristezas e alegrias que, enfim, ele também se compreende, como se tivesse nascido, de fato, naquele momento de sua compreensão da linguagem.

    Os trechos em que a criatura compreender a linguagem:

    “Aos poucos fiz uma descoberta  ainda mais importante. Percebi que aquelas pessoas tinham um método para comunicar suas experiências e seus sentimentos umas às outras por sons articulados. Notei que as palavras que falavam algumas vezes produziam prazer, noutras sofrimento, ora sorrisos, ora tristeza, na mente e no rosto de quem as ouvia. Era, de fato, uma ciência dos deuses aquela, e ardentemente desejei me familiarizar com ela.” (p. 200)

    “No começo a leitura me deixou extremamente intrigado, mas aos poucos descobri que muitos sons que Felix emitia ao ler era os mesmos que ele usava para falar. Conjecturei, portanto,  que o que ele enxergava no papel eram sinais inteligíveis acerca do que dizer, e também desejei muito compreendê-los.” (p. 202)

    “Enquanto eu melhorava a minha fala, também aprendia a ciência das letras à medida que ela era ensinada à dama; isso abriu diante de mim um  vasto campo de encantamento e prazer.” (p. 208)

    “As palavras induziam-me a olhar para mim mesmo.” (p. 209)

    “Que estranha é a natureza do conhecimento! Uma vez que adere à mente, ali se fixa como limo à tocha.” (p. 210)

    Acredito que é muito necessário fazermos sempre esse exercício de (re)conhecer a linguagem. Assim deixamos de ser monstros e nos tornamos capazes de agir perante à vida. É uma tarefa contínua. Sempre há mais para entender, para comunicar e para lidar com nossa própria existência.

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