Foram usadas
    Palavras.
    Foram ditas
    Palavras duras.
    E disseram-nas
    A céu aberto.

    Foram, um dia,
    Palavras límpidas.
    E cintilantes.
    Mas que soaram duras
    Aos ouvidos embrutecidos.

    Sem saber bem o que fazer,
    Pegaram as palavras.
    Esfregaram-nas em pedras
    Esfolaram-nas em ruas escuras
    Picaram-nas uma a uma.

    O que ninguém sabia
    Era que palavra não gasta
    – nem com muito uso.
    Nem com o horror
    Ou o abuso.

    Desgastam-se as ideias
    E os homens –
    Especialmente quando,
    Para ofuscarem outras,
    Usam também palavras.
    E essas
    Quase sempre
    Mal encaradas
    Mal acabadas
    Mal ancoradas
    Mal amadas
    Palavras que fazem
    Mal a …

    O que ninguém esperava
    Era que,
    Límpidas que são,
    As palavras
    Foram ouvidas novamente,
    E repetidas
    Em forma de coro
    Espalhadas
    Ditas
    Ditas
    Ditas
    A toda gente.

    As palavras descaradas
    Foram de boca em boca
    Em cada esquina
    Por todo canto
    Até serem compreendidas
    E darem frutos.

    O que ninguém esperava.
    Era que as palavras
    davam vida.

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