Katherine Mansfield foi uma grande contista, morreu jovem e, se não fosse assim, certamente seria também uma grande romancista, como Virginia Woolf que a tanto admirava. No livro “Contos” (Cosac Naify), há um registro do diário de Katherine em 17 de janeiro de 1922:

    “Tchecov estava enganado ao pensar que, se tivesse tido mais tempo, teria escrito plenamente, descreveria a chuva, a parteira e o médico tomando chá. Na verdade, só se pode colocar um certo tanto num conto; sempre existe um sacrifício. É preciso deixar de fora algo que se conhece e se quer usar. Por quê? Não faço ideia, mas é assim. É sempre como uma corrida para colocar o máximo antes de sumir.”

    Gosto quando trechos despretensiosos nos ajudam a compreender toda a complexidade das narrativas. Gosto quando percebo que ainda posso seguir o meu caminho de estudar literatura de um jeito mais informal e intimista. A minha intimidade, a minha informalidade.

    Um certo tanto

    Vejo uma certa melancolia nesse trecho de Katherine Mansfield e faço uma comparação com a nossa vida, com a rotina, com as coisas que conseguimos colocar apenas “um certo tanto”, porque não há tempo! E cada vez mais esse tempo parece diminuir…

    Quando acessamos a história, sabemos que antes da energia elétrica, dos carros, do telefone etc, a vida tinha um outro ritmo, mais lento, mais intenso também, assim como um bom romance. Hoje em dia, pelo ritmo de nossas vida, acabamos por vivenciar apenas a experiência como se a vida fosse um conto. Ou seja, tudo pode ser tão profundo e intenso, mas o tempo corre; o tempo voa; os amores e os trabalhos podem ser trocados e precisam atingir grandes picos em um curto espaço de tempo. Por outro lado, sabemos que somente os grandes escritores e escritoras conseguiram transpor para os contos toda a completude de uma vida. Katherine Mansfield foi uma dessas.

    Por fim, será que conseguimos, de tempos em tempos (para não colocar tanta pretensão) fazer de nossas vidas um conto como os de Katherine Mansfield, Tchecov, Virginia Woolf, Machado de Assis, Alice Munro entre tantos outros gigantes?

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